No dia 15 de fevereiro de 1941, de norte a sul, Portugal foi atingido por uma forte tempestade que ficaria conhecida como o «ciclone de 1941», cujas rajadas de vento ultrapassaram, na região do Porto, os 160km/h.
Em Lisboa, o vento atingiu uma velocidade de 129km/h, deixando na Imprensa Nacional, como em tantos outros edifícios, várias marcas de destruição. Na tarde de 15 de fevereiro, a intensidade do vento fez projetar sobre a central elétrica uma parte do telhado que cobria as oficinas tipográficas. Contra todas as expectativas, os trabalhadores permaneceram no comando das máquinas e só abandonaram as instalações depois da queda de «uma chaminé do prédio contíguo sobre o quadro distribuidor da energia elétrica.». O envolvimento destes e de outros trabalhadores na salvaguarda mais imediata do edifício mereceu mesmo um louvor do administrador:
«Nas primeiras horas da manhã de domingo 16, tendo melhorado um pouco o tempo deu-se começo aos trabalhos de reparações mais urgentes, para o que foi mandado apresentar todo o pessoal das oficinas de carpintaria, serralharia e eletricidade; além deste, outro compareceu espontaneamente pertencente a outras oficinas, tendo um deles declarado ao apresentar-se que vinha apenas para trabalhar e não queria ganhar dinheiro.»
«Os prejuízo foram grandes e muito maiores teriam sido se não tivesse havido uma grande dedicação da parte do pessoal das oficinas mais atingidas pela tormenta, que procurou remediar o mal causado, trabalhando todos em igualdade de circunstâncias, esquecendo mesmo as suas categorias para só pensarem na maneira de melhor defenderem a aparelhagem elétrica do prejuízo que a chuva lhe causava, envidando grandes esforços para que os serviços deste estabelecimento pudessem voltar à sua vida normal, publicando-se o Diário do Governo e o Diário das Sessões, na manhã de segunda-feira, que se julgava impossível mas que afinal se conseguiu.»
Para além das obras de reparação mais urgentes, a destruição acabaria por desencadear um processo mais longo de intervenção no edifício, cuja remodelação se iniciou em 1946 e envolveu a renovação de oficinas e da central elétrica.
** Texto adaptado de: QUEIROZ, Maria Inês; JOSÉ, Inês; FERREIRA, Diogo, Indústria, Arte e Letras. 250 Anos da Imprensa Nacional, Lisboa, Imprensa Nacional, 2019.