«Não só com o fim de elucidar o Exm.º Ministro do Interior acerca dos prejuízos causados na Imprensa Nacional por ocasião do ciclone que se fez sentir em Lisboa no dia 15 de fevereiro findo, como para dar conhecimento a S. Ex.ª da comprovada dedicação do pessoal que procedeu aos trabalhos de reparação mais urgente dos estragos produzidos no Estabelecimento, enviou esta Administração o seguinte ofício ao Exm.º Sr. Diretor Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, no qual S. Ex.ª o Ministro lançou o despacho que, também a seguir, se transcreve:
“Serviço da República. – Imprensa Nacional de Lisboa – Secretaria. – N.º 262. – Lisboa, 20 de fevereiro de 1941. – Ex.mo Diretor Geral da Administração Política e Civil – Ministério do Interior. – Sendo a Imprensa Nacional um departamento do Ministério do Interior, tem esta Administração absoluta necessidade de dar conhecimento a Sua Excelência, o Ministro, dos estragos sofridos com o ciclone que se fez sentir em Lisboa no dia 15 do corrente, e para isso peço a V. Ex.ª se digne comunicar-lhe o que passo a expor.
No sábado 15, pelas 16 horas o vento ciclónico começou a destelhar uma parte das oficinas de composição, atirando com os destroços que causava para cima do telhado da nossa Central Elétrica. Não obstante o grave risco que corria a vida dos operários que tinham de estar atentos ao comando das máquinas, eles mantiveram-se no seu posto até que caiu uma chaminé do prédio contíguo sobre o quadro distribuidor da energia elétrica.
Nesta altura, vista a impossibilidade de continuar ali, dei ordem para abandonarem o trabalho, mandando sair o pessoal das restantes oficinas, também atingidas pelo temporal que quebrou vidros e partiu telhas, ficando a entrar água em todas elas.
Nas primeiras horas da manhã de domingo 16, tendo melhorado um pouco o tempo deu-se começo aos trabalhos de reparações mais urgentes, para o que foi mandado apresentar todo o pessoal das oficinas de carpintaria, serralharia e eletricidade; além deste, outro compareceu espontaneamente pertencente a ouras oficinas, tendo um deles declarado ao apresentar-se que vinha apenas para trabalhar e não queria ganhar dinheiro.
Os prejuízo foram grandes e muito maiores teriam sido se não tivesse havido uma grande dedicação da parte do pessoal das oficinas mais atingidas pela tormenta, que procurou remediar o mal causado, trabalhando todos em igualdade de circunstâncias, esquecendo mesmo as suas categorias para só pensarem na maneira de melhor defenderem a aparelhagem elétrica do prejuízo que a chuva lhe causava, envidando grandes esforços para que os serviços deste estabelecimento pudessem voltar à sua vida normal, publicando-se o Diário do Governo e o Diário das Sessões, na manhã de segunda-feira, que se julgava impossível mas que afinal se conseguiu.
Para compensar este ato de abnegação, que tão bem demonstrou estar o pessoal deste estabelecimento integrado no cumprimento dos seus deveres, cumprindo-os até mesmo com sacrifício, peço a V. Ex.ª para sugerir a Sua Excelência o Ministro o quanto seria agradável a esta Administração ver louvado, quem tão bem soube cumprir. – A bem da Nação. – O Administrador, (a) António Gomes Bebiano.”»