Ficha
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Ultimamente, em consequência da suspensão forçada de alguns jornais, as classes dos tipógrafos e dos profissionais da imprensa viram-se a braços com uma crise grave e, para que ela fosse remediada, recorreram ao Governo; os tipógrafos pretendiam ser admitidos como contratados nas oficinas da Imprensa Nacional e os profissionais do jornalismo como revisores. O Sr. Luís Derouet e o Conselho Administrativo opuseram-se a que a admissão se fizesse fora da lei, isto é, sem concurso. O jornalista que não concorrera para a existência da chômage, punha tal rigor no cumprimento dos seus deveres oficiais que nem para os seus próprios camaradas abria uma exceção, que poderia ser tomada como favoritismo.
E a nobreza desse procedimento era tão evidente que alguns dos reclamantes resolveram conquistar o seu lugar por concurso.
Um deles foi o autor do atentado Manuel de Jesus Pinto. — Mas o exame, que era de provas práticas, enervara, de tal maneira o candidato, que este em dado momento, revolveu desistir.
O crime não tem, pois, explicação razoável, não só porque o diretor da Imprensa Nacional mostrara o maior empenho em solucionar, dentro da lei, uma crise para a qual não concorrera, como até se mostrara disposto a favorecer o homem que, afinal, lhe tirou a vida.
À hora a que escrevemos a Polícia procura averiguar se o crime foi ou não um ato isolado. A circunstância do criminoso ter ido esperar, à hora da saída do trabalho, a sua vítima, junta ao facto curioso de haver sido apagado, pouco antes, o candeeiro que iluminava o local do crime, além de outras razões, indicam bem que houve premeditação. E como há quem visse perto dois indivíduos que pareciam acompanhar o autor do atentado e que se puseram em fuga, ao ouvirem os tiros, suspeita-se da existência de cúmplices. […]»