Afastamento de Luís Derouet.

  • Referência
    «Nas horas amargas — O ex-director da Imprensa nacional encontra a opinião pública a consagrar a sua obra naquele estabelecimento e uma legião de amigos e admiradores a saudá-lo comovidamente», O Mundo, n.º 5278, de 24 de março de 1915, p. 1.
Assunto

Afastamento de Luís Derouet do cargo de Diretor-Geral da Imprensa Nacional, no contexto da ditadura de Pimenta de Castro.

Ficha

«A verberar o ato despótico e arbitrário do governo ditatorial, demitindo, por conveniência de serviço, o funcionário probo e zeloso que é Luís Derouet, cuja obra na Imprensa Nacional não é senão credora de louvor, a partir do presidente da República e a acabar no mais humilde cidadão português que haja visitado aquele estabelecimento do Estado nos últimos tempos, acudiu a imprensa jornalística justa e imparcial, num frémito de legítima repulsa e de crítica sincera e honesta. A Capital tratava o assunto em editorial, nos seguintes termos, muito cativantes para o nosso amigo:
‘A demissão do Sr. Luís Derouet do lugar de diretor geral da Imprensa Nacional e a sua imediata substituição pelo Sr. Augusto Machado dos Santos são factos que não têm só uma significação pessoal. Definem o caráter de uma situação que se apresentou ao país como vindo pacificar a sociedade portuguesa e regenerar a administração do Estado. Não vemos nesse caso pessoas. Não falamos em nome de partidos. Falamos em nome do prestígio de justiça que deve ter a República e do decoro que deve ser norma de toda a ação governativa. Demissões de funcionários do Estado, como o governo as está fazendo, não se admitem em parte nenhuma do mundo. Elas não podem ter uma justificação confessável. Demitir um funcionário público, cujo diploma de encarte ainda há bem pouco o Sr. Presidente da República deve ter assinado, sem invocar nenhuma razão, sem mandar proceder a nenhum processo disciplinar, sem ordenar quaisquer sindicâncias aos seus atos, é um ato de violência que não só ofende a equidade natural das consciências como afronta a própria razão. […] E se a tudo aquilo em que a justiça não é respeitada, em que direito respeitáveis não são acatados, não pôde atribuir-se uma característica de moralidade, muito menos ela se pôde descobrir em medidas a que não é possível evitar que se atribua um caráter de favor político, inspirado por interesses governativos. Este caminho é perigosíssimo. […]’
O nosso prezado colega O Povo, tratando das demissões e transferências produzidas pela ditadura marroquina, refere-se ao nosso colega Luís Derouet do seguinte modo:
‘O segundo perseguido, Luís Derouet, é um homem novo, com uma atividade assombrosa. Quando os rapazes da sua idade se divertiam, ele, moço inteligente, pensava no futuro do seu país, procurando redimi-lo pela República. Lançava-se ardentemente na propaganda republicana, fundava a Liga Académica, tornava-se a alma da Escola 31 de Janeiro, estabelecimento modelar que, recordando uma data gloriosa para a República, formava cidadãos republicanos. O ministro do interior desconhece com certeza essa Escola […]. Funcionário da República, tendo sido encarregado de publicar os primeiros decretos do governos provisório, desempenhou o seu lugar com uma lealdade que o nobilita.’
[…] Cumprimentos pessoais, cartas e telegramas muito afetuosos, recebeu ontem o nosso camarada Luís Derouet na sua residência e na redação deste jornal, que muito o penhoraram. Vivamente o comoveram, sobretudo, as manifestações que recebeu de muitos dos seus companheiros de trabalho da Imprensa Nacional, alguns dos quais contando 50 anos de serviço, que a sua casa foram testemunhar-lhe o seu pesar pelo ato de que foi vítima. […]»