DEROUET, Luís Carlos Guedes

  • Nascimento
    1880
  • Morte
    1927
  • Categoria Profissional
    Administrador-Geral/Diretor-Geral da Imprensa Nacional
Biografia

 

INCM/Biblioteca.

Nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel, em 19 de abril de 1880.
Jornalista, republicano e revisor de 1.ª classe, foi admitido na Imprensa Nacional em 1 de julho de 1902, onde se cruzou, ainda no exercício da profissão, com um dos fundadores do Partido Socialista, Nobre França, e com o futuro precursor da reforma ortográfica, José António Dias Coelho.

Frequentou os preparatórios da Escola Politécnica para a Escola Médica, mas acabou por enveredar pelo jornalismo. Colaborou em vários jornais, nomeadamente A Cabra (1893), Actualidade, Barricada, A Vanguarda (que fundou em 1897), A Pátria, O Mundo (que também fundou), A Manhã (1917), Diário da Tarde e Diário de Lisboa.

Assumiu funções como Administrador-Geral (Diretor-Geral a partir de 1913) da Imprensa Nacional em 6 de outubro de 1910, naquela que terá sido a primeira nomeação do Governo Provisório para um cargo público. Quando tomou posse, conhecia já as linhas de força e de vulnerabilidade de uma Imprensa que vinha atravessando momentos de reforma. Logo em novembro de 1910, fez publicar a reorganização provisória dos serviços da Oficina Tipográfica, alterando chefias e o regime de serviço noturno, e instou junto do governo pela nomeação de uma comissão de inquérito à Imprensa Nacional.

Na fase inicial da sua direção, acompanhou a extinção da tipografia da Academia das Ciências de Lisboa, em 17 de outubro de 1910, e a integração do respetivo património na Imprensa Nacional a partir de 3 de janeiro de 1911. Foi também através de Luís Derouet que se desencadeou o processo de reforma ortográfica de 1911, ao transmitir as preocupações sentidas na secção de revisão da Imprensa Nacional quanto à incoerência ortográfica das publicações oficiais.

Republicano convicto e promotor de obras de instrução, a sua administração dividiu-se pelo esforço de modernização tecnológica e dos processos de ensino do operariado, a melhoria das condições de vida e trabalho (condições salariais, higiene e saúde), o apoio ao associativismo e ao desenvolvimento de sistemas de proteção social, a par da promoção do papel cultural da Imprensa, sobretudo através da nova biblioteca que fez inaugurar em 1923. Sob a sua administração (1910‑1927) concluiu-se a construção do novo edifício, criaram-se os balneários, o refeitório e o posto médico, nasceu a Associação de Classe do Pessoal da Imprensa Nacional (março de 1915), a cooperativa A Pensionista (no mesmo ano) e a Caixa de Auxílio a Viúvas e Órfãos dos Empregados (1918), e foram organizadas na Imprensa Nacional a primeira Exposição Nacional de Artes Gráficas (1913) e a primeira Exposição de Ex-Líbris Nacionais e Estrangeiros (1927), esta última com forte impacto internacional. Por Decreto, de 7 de novembro de 1913, foi nomeado comissário do governo na Exposição Internacional da Indústria do Livro e Artes Gráficas de Leipzig, onde fez representar Portugal no ano seguinte. Foi também por sua iniciativa que se iniciou um ciclo de palestras de divulgação científica, destinadas ao operariado e ao público em geral, bem como os ciclos de visitas de estudo pelos aprendizes da Imprensa Nacional. Por sua iniciativa, foram ainda criadas as 3 séries do Diário do Governo, a partir de 1914.

Deputado à Câmara dos Deputados, defendeu, em maio de 1914, a melhoria das condições de vida do operariado. Durante a Ditadura de Pimenta de Castro (janeiro-maio de 1915) foi temporariamente afastado, acusado de transmitir informações sobre o Diário do Governo a Afonso Costa, sendo novamente afastado por um curto período de tempo durante o sidonismo.

Após a Grande Guerra, a sua ação ficou marcada pela melhoria das condições salariais e orçamentais bem como pela valorização do papel cultural da Imprensa Nacional. Interveio, a favor do pessoal, na greve de 1920, conseguindo negociar junto do governo as melhorias reclamadas. Na década de 1920, fez também viagens de estudo na Europa e América do Sul para estudar o desenvolvimento mais recente das artes gráficas.

Nos últimos anos de administração, iniciou a renovação tecnológica da fundição de tipos. Já sob Ditadura Militar, em 12 de agosto de 1927, resistiu à tentativa dos revoltosos do «golpe dos Fifis» em fazer publicar um Diário do Governo que nomeava Filomeno da Câmara para todas as pastas do governo. Também nesse ano foi lançada a primeira coleção da Imprensa Nacional, intitulada «História, ciência, arte».

Na noite de 31 de outubro de 1927, quando deixava a Imprensa Nacional na fase de encerramento da exposição de Ex-Libris, foi baleado várias vezes por Manuel Pinto, antigo tipógrafo-paginador do jornal Batalha que estaria desempregado e que Derouet procurara ajudar. Não resistiu aos ferimentos, acabando por morrer no dia seguinte. A verdadeira motivação do crime nunca foi claramente apurada.
Apesar do seu desaparecimento prematuro, Luís Derouet deixou marcas indeléveis na Imprensa Nacional. A sua memória, evidenciada pelas visitas fúnebres organizadas pelo pessoal nas décadas seguintes, foi evocada por muitos anos, em momentos de reflexão e tomada de decisão. O seu vasto legado ficou patente no pensamento republicano com que orientou a direção, na Biblioteca até hoje aberta ao público, na produção bibliográfica, nas obras de instrução, na reorganização industrial, nas medidas de higiene operária, na luta incessante pelas melhorias orçamentais e pela modernização das oficinas.