Ficha
«O Diário de Notícias publicava ontem a seguinte entrevista com o administrador da Imprensa Nacional, acerca de uma projetada exposição nacional das artes gráficas, ideia que tem também o nosso mais rasgado aplauso.
Podemos hoje, gratamente, confirmar a notícia que ontem demos, ainda sob uma certa reserva, acerca da tentativa de uma exposição nacional de artes gráficas que a administração da Imprensa Nacional se propõe realizar no próximo ano a comemorar o 3.º aniversário da República Portuguesa. Foi pelo Sr. Luís Derouet, zelosíssimo administrador daquele estabelecimento do Estado, que obtivemos a confirmação da notícia. Naturalmente indicado estava também que procurássemos obter do Sr. Luís Derouet mais alguns pormenores sobre essa projetada manifestação gráfica, cuja alta significação é desnecessário encarecer. E à nossa pergunta sobre a iniciativa do certame o administrador da Imprensa esclarece-nos amavelmente:
‘— Foi o concurso de trabalhos artísticos há pouco realizado neste estabelecimento, sobre o qual o Diário de Notícias produziu mui penhorantes referências, que me fez acariciar a ideia dessa exposição. Indubitavelmente que o concurso a que me referi serviu, de certo modo, a elevar o nível artístico da Imprensa e a contribuir para que, num futuro muito próximo, a Imprensa Nacional tenha o lugar que merece entre os estabelecimentos similares estrangeiros. Entretanto, a exposição aqui efetuada, a despeito do seu caráter restrito, pois só aos artistas do estabelecimento era permitido concorrerem, despertou um certo interesse no mundo gráfico, e assim foi com grande prazer que se registou a visita aqui de alguns artistas consagrados que empregam a sua atividade na indústria particular, não só da capital, mas de vários outros postos do país, os quais foram pródigos nos seus aplausos aos trabalhos expostos. Pois foram, sobre tudo, esses aplausos que me animaram à prática da Exposição Nacional que os meus amigos ontem noticiaram. A época não vai para egoísmos, e eu de modo algum pretendo que se possa inferir que o levantamento das artes gráficas no país se circunscreva egoistamente à Imprensa do Estado, muito embora, em princípio, deva ser o Estado o propulsor do fomento não só industrial, mas comercial e agrícola. De resto, há por aí muitos estabelecimentos que fazem honra à indústria gráfica, quer em tipografia, quer em litografia, quer em gravura, quer em encadernação, com a vantagem de não estarem circunscritos à manufatura dos trabalhos oficiais, pela sua natureza pouco próprios a manifestações de rasgado caráter artístico. À indústria particular se devem magníficas e cuidadas edições e outras produções nos ramos já citados. A indústria particular tem direito, portanto, a afirmar-se nesse certame e a minha ideia serve, e como tal deve ser encarada, de estímulo e de incentivo para o engrandecimento das artes gráficas em geral.’
‘— E o programa já está elaborado?’
‘— Apenas nas suas linhas gerais, como acabo de expor. Aguardo que o Sr. ministro do interior, a quem expus já a ideia, a aprove, e, em caso afirmativo, nomeada oficialmente a comissão que há de organizar o certame, a esta incumbe, implicitamente, a elaboração do programa detalhado.’
‘— Pensa também numa exposição internacional?’
‘— Sim senhor. Com todo o entusiasmo. A essa obra, que conto possa realizar-se em outubro de 1914, hão de associar-se muitas casas gráficas estrangeiras, não só com os seus artigos mas com os seus maquinismos. E compreende-se que o façam, atento o desenvolvimento e o interesse da sua propaganda que, pelo menos em Lisboa, é cada vez maior. Essa exposição, evidentemente, trará a essas casas muito mais seguras e sólidas vantagens do que as que lhes podem oferecer os seus comis-voyageurs, aliás inteligentes, expeditos e sabendo… vender o seu peixe, como se diz em linguagem pitoresca. De uma forma iniludível, a Exposição Nacional de 1913 e a Exposição Internacional de 1914 hão de concorrer para o levantamento das artes gráficas em Portugal. E como administrador do primeiro estabelecimento gráfico do país e como patriota, muito agradável me será prestar esse serviço à República Portuguesa.’ […]»