Incêndio do Colégio dos Nobres, em 1843.

  • Referência
    SCHWALBACH, Luís, «O 804.º aniversário da Tomada de Lisboa aos Mouros», Revista Municipal, n.º 51, 4.º trimestre de 1951, pp. 18-25.
Assunto

Apoio dos funcionários da Imprensa Nacional durante o Incêndio do Colégio dos Nobres, em 1843.

Ficha

«[…] Mas chegou, Senhoras e Senhores, o dia 22 de abril de 1843. E triste dia foi este!
Próximo das três da tarde os sinos da cidade deram em bater furiosamente a rebate: os rolos dum fumo negro, denso, tenebroso, saíam dos fossos do ângulo direito, mesmo ao fundo do edifício, levantando-se lenta, implacavelmente aos céus: — Fogo! gritou-se aflitivamente de boca em boca. Está a arder o mais precioso edifício de Lisboa! Um clarão trágico iluminava pouco a pouco a Cidade, e as labaredas cresciam sempre; animadas pelo vento nordeste, com um augúrio de desgraça funda. Acodem mais de cem empregados da Imprensa, com a sua bomba privativa.
Interrompem-se as Câmaras; vem El-Rei D. Fernando, vêm todos os ministros; magistrados, professores, estudantes, militares — toda a Cidade enfim! Acodem os marinheiros duma esquadra francesa, outros ingleses também, e alguns dos estrangeiros pagam com a vida a sua devoção.
Castilho, entre a fornalha, dá o exemplo e fica ferido.
Frente à Escola um pobre taberneiro do povo, Tiago do Vale, manda abrir todas as pipas e dá gratuitamente pão e vinho aos que lutam contra o incêndio fatal. O relógio central, despertador de glórias, já não bateu as quatro horas — emudecera para sempre. Às oito horas já não havia que salvar! Só as paredes esfaceladas, largas e potentes — sobre algumas haviam andado juntas de bois! — só essas tinham ficado de pé — num desafio simbólico à corrosão do tempo e à incúria dos homens. Em desordem, manuscritos e livros preciosos tinham sido transportados para a cave da Imprensa Nacional — e várias coleções ficarão truncadas sem remédio. Aparelhos, Quadros, Alfaias — tudo disperso ou reduzido a cinza.»