παΐδας προσειπεΐν βούλομαν δότ’, ώ τέκνα, δότ’ άσπάσασθαι μητρί δεξιάν χέρα.
Quero dizer adeus aos meus filhos. Deixai-me, ó filhos, deixai à vossa mãe apertar a vossa mão direita.
Eurípides, Medeia
fixação de texto de J. Diggle (Oxford 1984)
tradução de Maria Helena da Rocha Pereira
Coimbra, 1991
Foi à literatura, à cultura clássica e às artes gregas e romanas que Maria Helena da Rocha Pereira, universitária insigne da Universidade de Coimbra (UC), dedicou toda uma vida. Uma vida que terminou esta segunda-feira, 10 de abril, aos 91 anos.
Maria Helena da Rocha Pereira, a representante portuguesa mais ilustre, dos séculos XX e XXI, em matéria clássicos, nasceu na Cedofeita (Porto) em 1925, licenciando-se e doutorando-se em Estudos Clássicos na Universidade de Coimbra. E, se Carolina Michaellis foi a primeira mulher a exercer funções docentes na história da UC (tendo passado a integraar os quadros da Faculdade de Letras em 1912), Maria Helena da Rocha Pereira foi a primeira mulher a prestar provas de doutoramento naquela universidade, com apreciação de tese científica diante de um júri.
Foi também a primeira professora catedrática da UC. Em 1956, defendeu a sua dissertação Conceções Helénicas de Felicidade no Além: de Homero a Platão. Especializou-se na Faculdade de Litterae Humaniores da Universidade de Oxford, onde aprendeu Crítica Textual, Paleografia Grega e Epigrafia, tendo oportunidade de estudar os vasos gregos com o maior especialista da época, John Beazley. Foi também aluna do professor E. R. Dodds, autor de um famoso livro, Os Gregos e o Irracional.
Ocupou os cargos de vice-reitora da UC, foi presidente Conselho Científico da Faculdade de Letras e esteve à frente das revistas Humanitas e Biblos.
Foi galardoada com o Prémio de Ensaio do Pen Clube Português (1989), os prémios Eduardo Lourenço (2005), União Latina (2005), Universidade de Coimbra (2006), Jacinto do Prado Coelho (2006), Padre Manuel Antunes (2008) e Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (2010). Maria Helena da Rocha Pereira recebeu também a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra e foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada. Em sua homenagem, a Fundação Engº António de Almeida instituiu um prémio com o seu nome.
As traduções dos clássicos gregos e latinos, em edições críticas, fizeram-na sobressair como a grande especialista portuguesa no Classicismo. Publicou mais de trezentos livros e artigos, em Portugal e no estrangeiro. Entre eles, figuram edições críticas, como a de Pausânias, como os Estudos de História da Cultura Clássica ou trabalhos sobre a presença dos clássicos em autores portugueses.
Em 1988, Maria Helena da Rocha Pereira, publicou na INCM a os seus Novos Ensaios sobre Temas Clássicos na Poesia Portuguesa (prémio do Pen Club Português em 1989), que reune textos escritos ao longo de 12 anos onde procurava «captar, de vários ângulos, a preseça da Antiguidade Clássica nas Letras portuguesas.» O livro, com uma 2.ª edição em 2012, percorre autores do cânone português que vão desde os clássicos António Ferreira e Camões, aos Árcades setecentistas Alcipe, Bocage, e chegando até Augusto Gil, Fernando Pessoa e também aos contemporâneos como Miguel Torga, José Gomes Ferreira, Sophia de Mello Breyner e Eugénio de Andrade.
Obra aqui em destaque, em jeito de reconhecimento da editora pública a este nome maior da Academia portuguesa que foi, que é, que continuará a ser Maria Helena da Rocha Pereira.
TPR