O Suplemento 10 à revista O Arqueólogo Português é um estudo de Ana Patrícia Magalhães dedicado ao sítio arqueológico de Troia, Grândola, e vem trazer um contributo notável para o conhecimento do sítio e da história do ocidente da Península Ibérica na Antiguidade. De salientar que as ruínas romanas da península grandolense no estuário do Sado são hoje reconhecidas como uma das mais notáveis referências da arqueologia portuguesa.
«O livro de Ana Patrícia Magalhães é um belíssimo ensaio que conjuga estas valências essenciais: traz novidade, solidamente estruturada, e valoriza sagazmente os conhecimentos adquiridos, quase esquecidos, por vezes. (…) No livro de Ana Patrícia Magalhães, encontra o leitor um modelar trabalho de investigação arqueológica, classificando e contextualizando um vasto acervo cerâmico, mas também uma laboriosa operação de recuperação das memórias do estudo da península de Troia. Em suma, uma obra de referência que garante a preservação de uma relevante informação para a história deste notável lugar de entrelaçamento do Mediterrâneo e Atlântico romanos.»
Carlos Fabião in «Prólogo»
«Este estudo apresenta uma grande quantidade de material, sobretudo de terra sigillata africana D, da primeira e últimas escavações da Oficina 1 (Troia). Estes materiais foram recolhidos por F. Bandeira Ferreira que descobriu a oficina em 1956 e trabalhou nesta fábrica no final dos anos 50 do século XX. Mais tarde, nos inícios dos anos 60, M. Farinha dos Santos, pôs a descoberto a parte noroeste da oficina. A escavação mais recente foi realizada pela equipa de arqueologia do Troia Resort, entre 2008 e 2009. Apesar de alguma informação registada nessas escavações se ter perdido, alguns relatórios de campo e a correspondência trocada entre os investigadores foi preservada e mereceu um estudo aprofundado, permitindo a interpretação e contextualização de um impressionante volume de cerâmicas que enriquece o conhecimento da Oficina 1. Os trabalhos recentes ajudaram a ultrapassar os vazios de informação existente na documentação antiga e a consolidar esses resultados. As diferentes produções e a variedade de formas de terra sigillata identificadas na Oficina 1 demonstram uma capacidade económica excecional e indicam uma considerável facilidade de aquisição de produtos importados. A pesquisa levada a cabo permite afinar a cronologia preexistente (Étienne, Makaroun e Mayet, 1994, p. 48), indicando que o abandono da produção de salgas nesta oficina se terá dado no segundo quartel do século v, quando se verifica uma queda acentuada dos níveis de importação da terra sigillata e a área começa a ser utilizada essencialmente para depósito de lixos domésticos. As peças mais tardias, cuja datação se pode estender até meados do século VI d. C. são raras, e devem ser integradas na necrópole que ocupou esta área.»
Ana Patrícia Magalhães in «Resumo»
A revista O Arqueólogo Português foi fundada, em 1895, por José Leite de Vasconcelos e constitui-se como uma obra de referência na área da Arqueologia Portuguesa sendo, em Portugal, a mais antiga publicação periódica sobre a temática. Atualmente decorre de uma parceria entre a Imprensa Nacional e o Museu Nacional de Arqueologia. A revista é uma obra de cariz científico e multidisciplinar, onde são apresentados ensaios de reputados autores nacionais e estrangeiros.
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Sobre a autora
Ana Patrícia Magalhães nasceu em 1983, no concelho de Cascais, viveu em Oeiras até à conclusão do ensino universitário e atualmente reside em Palmela. Licenciada em Arqueologia e História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2001-2006), onde também obteve o grau de Mestre, defendido em 2011, e cuja investigação foi objeto da publicação deste livro. Começou a sua atividade profissional com trabalhos arqueológicos de emergência, mas durante 13 anos esteve inteiramente dedicada ao Projeto de Valorização das Ruínas Romanas de Troia, em todas as suas vertentes de investigação, conservação e valorização, realizando tarefas que vão desde a codireção de escavações à comunicação cultural e desenvolvimento de audiências. É precisamente esta experiência profissional que motivou o ingresso no 3.º Ciclo em Estudos do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2019, com o tema «O Complexo Portuário Romano do Sado», procurando dar continuidade à sua investigação nesta região numa perspetiva mais abrangente. A sua pesquisa versa o interesse no comércio romano, no centro de preparados piscícolas de Troia e no povoamento do Sado, assim como em gestão turística e cultural, com mais de 50 títulos publicados.
Outros Suplementos a O Arqueólogo Português, já publicados:
- Epistolário de José Leite de Vasconcelos
- Apontamentos sobre a utilização do osso no Neolítico e Calcolítico da Península de Lisboa. As colecções do Museu Nacional de Arqueologia
- Actas do VIII Congresso Internacional de Estelas Funerárias
- As necrópoles de Silveirona (Santo Estêvão, Estremoz). Do mundo funerário romano à Antiguidade Tardia
- Um conjunto cerâmico da Azougada. Em torno da Idade do Ferro Pós-Orientalizante da margem esquerda do Baixo Guadiana
- O Castro dos Ratinhos (Barragem do Alqueva, Moura). Escavações num povoado proto-histórico do Guadiana, 2004-2007
- Leite de Vasconcelos e Orlando Ribeiro. Encontros epistolares (1931-1941)
- Manuel Heleno: Pioneiro do ensino e da investigação arqueológica em Portugal (1923-1964)
- As necrópoles romanas do Algarve. Acerca dos espaços da morte no extremo sul da Lusitânia