Ficha
«O valiosíssimo certame ontem solenemente inaugurado na Imprensa Nacional teve a distingui-lo, como primeira visita, a figura simpática e veneranda do primeiro magistrado do país, o Sr. Dr. Manuel de Arriaga. Foi, por todos os motivos, uma verdadeira festa de consagração do trabalho, a de ontem, e uma bem nítida demonstração de quanto vale o nosso esforço na arte superior de Gutenberg. Vestiu galas o enorme edifício da Imprensa Nacional para receber os seus ilustres visitantes. Pararam por algumas horas o seu labor proveitoso as enormes máquinas de imprimir, descansaram os caixotins do manusear dos compositores e ao ruído afanoso do trabalho sucederam os brados entusiásticos de aclamação à República e à Pátria. A todos os que ali se encontravam, o mesmo ardor de orgulho se comunicava, orgulho de satisfação de uma grande obra realizada. […] Abrangendo todos os variados ramos das artes gráficas a exposição da Imprensa Nacional diz bem alto dos méritos dos nossos artistas, tanta vez tão menosprezadoramente tratados, e impõe-nos a olhos de entendidos com um alto grau de cultura bem digno de reales [sic] nesta época de caminhar progressivo que a República veio indicar-nos.
Todo o edifício da Imprensa Nacional de Lisboa se encontra vistosamente ornamentado com bandeiras e flores. Muito antes da hora marcada para o início da festa, chega uma força da guarda nacional republicana, destinada a fazer o serviço interno de polícia e que é convenientemente distribuída pelas diferentes salas, dando pouco depois entrada a banda da mesma guarda, que à solenidade se prestou gentilmente a abrilhantar. Às 13 horas e meia, no vestíbulo da entrada principal da Imprensa Nacional de Lisboa, que deita para a rua da Escola Politécnica, começam a juntar-se as pessoas que haviam recebido convite especial da comissão organizadora da Exposição Nacional das Artes Gráficas, aguardando a chegada do Sr. Presidente da República. O átrio e escadaria também se encontram ornamentados com grandes vasos de plantas, vendo‑se de cada lado da escada uma bobina enorme de papel, detalhe interessante da instalação da Companhia do Papel do Prado […].
Depois dos cumprimentos, o Sr. Dr. Manuel de Arriaga inicia a sua visita à Exposição, começando pela sala da esquerda, no rés-do-chão do edifício, onde se encontram os interessantes trabalhos de gravura em cobre da Casa da Moeda e da Imprensa Nacional de Lisboa […].
O Sr. Dr. Manuel de Arriaga, sempre ao lado do Sr. Luís Derouet, passou para as maiores salas da Exposição, já na parte antiga do edifício, admirando então milhares e milhares de trabalhos notáveis em todos os ramos da indústria gráfica, apresentados pelas mais importantes casas do país e pelos mais hábeis artistas da especialidade […].
A vasta oficina de impressão oferecia um magnífico aspeto com a abundância de flores e bandeiras que a decoravam. Númeras [sic] senhoras emprestavam uma nota interessante dos seus vestidos e da sua alegria àquele recinto cheio de luz, onde ia realizar-se a sessão solene comemorativa da inauguração do certame. Ao som da Portuguesa, e entre o vibrante estralejar de uma salva de palmas, o Sr. Presidente da República deu entrada na sala repleta de público, que freneticamente o aclamava, e foi ocupar o lugar da presidência, sob um dossel com muito gosto armado, tendo à sua esquerda o administrador da Imprensa Nacional e à sua direita o ilustre ministro do interior. Em especiais cadeiras tomavam lugar os empregados daquele estabelecimento com mais de 50 anos de trabalho, em honra de quem também se realizava aquela sessão.
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À noite funcionou a Exposição, das 20 às 23 horas, sendo concorridíssima. […] Venderam-se muito o Catálogo da Exposição, ao preço de 20 centavos, magnífico volume que é um curioso documento dos trabalhos expostos, o lindo exemplar da Revista das Artes Gráficas, dedicado ao certame. […]»