Homenagem do pessoal da carpintaria a Luís Derouet.

  • Referência
    «Na Imprensa Nacional realizou-se ontem uma festa de homenagem ao seu director geral», O Mundo, n.º 8539, de 22 de abril de 1926, p. 2.
Assunto

Homenagem do pessoal da carpintaria da Imprensa Nacional ao seu Diretor-Geral, Luís Derouet, pela melhoria das condições de trabalho.

Ficha

«O pessoal da oficina de carpintaria da Imprensa Nacional, reconhecido para com o seu diretor, pela remodelação por que acaba de passar a sua oficina, procurou ontem o Sr. Luís Derouet no seu gabinete e fez entrega da seguinte mensagem escrita num pergaminho, lindamente aguarelado por Alfredo Morais, e encerrada numa rica pasta de cetim grená com fitas moirée:
‘Ex.mo Sr. Luís Derouet, digníssimo Diretor Geral da Imprensa Nacional de Lisboa — o pessoal da oficina de carpintaria da Imprensa Nacional de Lisboa, cheio de gratidão, vem perante V. Ex.ª, no dia em que as novas máquinas começam a sua regular laboração, agradecer em palavras simples e sem lisonja o muito que lhe fica devendo pelas obras de saneamento que V. Ex.ª mandou executar na oficina em que trabalham. Nunca poderemos esquecer que quando V. Ex.ª em 5 de Outubro de 1910 tomou conta da administração da Imprensa Nacional nós trabalhávamos num subterrâneo sem ar nem luz e que foi V. Ex.ª que reconhecendo prontamente a necessidade de nos emancipar, de nos libertar da escravidão em que trabalhávamos que mandou construir provisoriamente um barracão onde logo nos foi permitido trabalhar à luz do dia, livrando-nos assim da humidade que arruinava a nossa saúde e da escuridão que nos obrigava a trabalhar à luz da eletricidade o que nos conduziria rapidamente não à cegueira completa pelo menos a um enfraquecimento precoce da vista. O génio moderno de V. Ex.ª, a sua firmeza de vontade para vencer dificuldades e afrontar revezes, não parou, foi mais longe, dotou agora a nossa oficina com maquinismos dos mais aperfeiçoados modelos, deu-lhe um aspeto de salubridade e de higiene que a tornam uma das mais confortáveis. Bem haja V. Ex.ª que como homem do futuro e português dos melhores, não podia deixar de ser revolucionário, todos os portugueses o são por ativismo e V. Ex.ª, honrando a raça, bem o tem demonstrado não só revolucionando todos os antiquados serviços da Imprensa Nacional melhorando-os e aperfeiçoando-os, mas batendo-se também como ainda há bem poucos dias por ocasião da discussão do orçamento do Ministério do Interior, quando na Câmara dos Srs. Deputados estavam para ser cerceadas as verbas destinadas à Imprensa Nacional, e em que V. Ex.ª mostrou bem patentemente o que vale a sua própria individualidade quando é preciso defender os interesses da Imprensa Nacional e do Estado. Ex.mo Sr. Diretor Geral, sem frases empoladas, que as não sabemos dizer, vimos pedir a V. Ex.ª que receba esta mensagem como a expressão máxima do nosso mais vivo afecto e respeito permitindo-nos ao mesmo tempo que o saudemos como operário do Bem. Por forma diversa todos nós somos operários sem diferenças nem antagonismos, V. Ex.ª é trabalhador pela inteligência, nós somos pelo braço, irmanados pois no mesmo ideal do trabalho; digne-se V. Ex.ª tomar conta da nossa promessa de muita dedicação e esforço no cumprimento dos nossos deveres e aceite os nossos entusiásticos agradecimentos. — Lisboa 10 de abril de 1926. Alberto Duarte da Cunha, António Luis Ribeiro, João Simões, José Duarte da Fonseca.’
O Sr. Luís Derouet, agradecendo a manifestação, disse que tinha em todos os operários da carpintaria da Imprensa excelentes cooperadores do trabalho de reorganização das oficinas do estabelecimento que dirige, e exprime a esperança de num futuro breve ver completamente remodelada a vida da Imprensa, que pode ter ainda detratores, mas tem já hoje à sua volta uma grande corrente de simpatia. Aludiu, por fim, ao modo por que o Parlamento acarinhou recentemente a inclusão de verbas no orçamento para aquisição de maquinismos que coloquem a Imprensa Nacional no lugar de direito, e terminou por dizer que essa atitude o compensava bem da injustiça com que muitas vezes tem sido tratado por aqueles mesmo que mais lhe devem.»