Segundo aniversário da República.

  • Referência
    Alberto, BARBOSA, «Uma festa de trabalho na Imprensa Nacional», O Mundo, n.º 4338, de 4 de outubro de 1912, p. 3.
Assunto

Comemorações do segundo aniversário da República na Imprensa Nacional, com a presença de Manuel de Arriaga.

Ficha

«Muito simples e muito singela, mas de uma simplicidade e singeleza tocantes, a simpática festa realizada ontem no edifício da Imprensa Nacional de Lisboa, a primeira do ciclo comemorativo do 2.º aniversário da República. Organizada por um grupo de leais e dedicados republicanos, que, naquele estabelecimento do Estado dedicam o melhor da sua inteligência e do seu esforço a um trabalho profícuo, à solenidade, cujo principal objetivo era a inauguração de um refeitório e de um balneário, decorreu calorosa e entusiástica, com a assistência do chefe do Estado, de ministros e outras entidades oficiais, que um requinte de gentileza levou a corresponderem amavelmente ao convicto que lhes havia sido dirigido.
[…] Hoje, na vanguarda daquele importante estabelecimento oficial, vêm-se pessoas cheias de energia e de iniciativa, administrando escrupulosamente e estimulando os artistas por meio de concursos, auxiliando-os na sua ação e adquirindo o material indispensável, que até agora não existia, e que, incontestavelmente, há de, em breve espaço de tempo, colocar a Imprensa Nacional de Lisboa a par dos estabelecimentos congéneres do estrangeiro.
[…] O corpo principal do edifício, ainda em obras, e que ontem foi inaugurado, compõe-se de salas amplas e rasgadas que deitam para a rua da Escola Politécnica. Aí e no resto do edifício via-se uma artística ornamentação. No interior e por toda a parte se revelava cuidadoso asseio. As escadas, os corredores e todas as dependências estavam muito bem decoradas com vasos de plantas naturais, deixando uma excelente impressão, reveladora de que ali dentro se trabalha com critério e boa vontade.
[…] ‘O Sr. Dr. Manuel de Arriaga dirigiu-se com todas as pessoas que o aguardavam para a sala de exposição de trabalhos no primeiro andar do edifício, onde se encontravam expostos interessantes exemplares, que o chefe do Estado cuidadosamente examinou, tecendo-lhes rasgado elogio, detendo-se principalmente ante as aguarelas de Alfredo Morais, de uma perfeita e artística execução.’
Inauguração do balneário.
O Sr. Dr. Manuel de Arriaga procedeu depois à inauguração do refeitório, descerrando uma lápide […].
[…] Ante esta prova de boa e leal camaradagem, Luís Derouet agradeceu penhorado a manifestação, afirmando continuar a proceder como até aqui, cheio de entusiasmo e da boa vontade de trabalhar. De resto, para ele essa manifestação de simpatia, que muito o sensibilizava, constituía até certo ponto uma compensação para possíveis injustiças e ingratidões com que porventura se procurava desvirtuar o seu esforço.
[…] Das 15 horas em diante o edifício ostentou brilhantes iluminações. As janelas da nova fachada e a cimalha estavam guarnecidas a lâmpadas elétricas […] Hoje às 14 horas efetua-se também uma festa encantadora. Realiza-se o lanche aos filhos dos empregados, artistas e operários da Imprensa, a que presidirá a Sr.ª D. Lucrécia Arriaga, esposa do chefe de Estado.»