Júlio Dinis, pseudónimo do médico Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu há precisamente 179 anos, a 14 de novembro de 1839, na cidade do Porto, onde viria a falecer, ainda muito jovem, com 31 anos, em setembro de 1871, vitima de tuberculose.
Apesar do desaparecimento tão prematuro, Júlio Dinis deixou títulos soantes na Literatura Portuguesa tais como: A Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa, Serões da Província, Os Fidalgos da Casa Mourisca e As Pupilas do Senhor Reitor — obra que 151 anos depois de ter sido publicada pela primeira vez continua a suscitar interesse editorial. O ano passado, por exemplo, a editora Guerra e Paz publicou o romance onde incluiu 70 aguarelas do pintor Roque Gameiro. Também em 2017 a Imprensa Nacional acrescentou este título à sua coleção «Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa», onde inclui também uma nota prévia do académico Carlos Reis e introdução e nota de bibliográfica de Maria do Rosário Cunha.
Para uns As Pupilas do Senhor Reitor é o retrato fiel de uma aldeia portuguesa oitocentista , para outros será obra da literatura light, para outros ainda, caso de Alexandre Herculano, é o primeiro romance português e o seu autor «o maior talento da sua geração». Para nós, As Pupilas do Senhor Reitor, é indiscutivelmente uma obra fundamental da Literatura Portuguesa.
Além dos amores e dos desencontros Clara e Margarida (órfãs) e de Daniel e Pedro, As Pupilas do Senhor Reitor, apresenta uma interessante e colorida galeria de personagens como João das Dornas, João Semana, o inesquecível médico da província, João da Esquina, dono da loja, a Ti’Zefa, a coscuvilheira da aldeia, o Sr. Reitor, o Velho Mestre, entre outras…
Inicialmente As Pupilas foram publicadas em folhetim, no Jornal do Porto, conhecendo o formato de livro em 1887. O sucesso foi imediato, sendo um dos romances mais vendidos nos séculos XIX e XX em Portugal.
Muitas serão as razões para se explicar este sucesso. A simplicidade do estilo, muito afastado da escrita erudita de outros romances da época, a própria trama, as situações imprevistas, a intensidade dramática… Na nota à edição da Imprensa Nacional pode ler-se:
«O romance As Pupilas do Senhor Reitor traça um quadro de costumes rurais e sociais que ajuda a compreender aspetos relevantes da vida portuguesa da segunda metade do século XIX.
Algumas vezes classificado como escritor de leitura fácil e amena, Júlio Dinis merece ser lido e relido para além dessa imagem de superficialidade e de idealizada visão das coisas e das pessoas. N’As Pupilas do Senhor Reitor encontramos muito mais do que isso, por exemplo, no respeitante à prática da medicina e à imagem do médico, bem como no tocante a opções éticas e morais que nos mostram, em personagens de desenho sugestivo, uma sociedade em mudança. Com justiça, as obras de Júlio Dinis (e em especial este romance) conseguiram sobreviver ao seu autor.»
O êxito deste romance suscitou várias adaptações para cinema. A primeira em 1922 sob a direção de Maurice Mariaud. A segunda em 1935, com realização e adaptação de Leitão de Barros. Anos mais tarde, em 1960 Perdigão Queiroga também levou a história aos ecrãs de cinema. A história também já foi adaptada para o formato de novela e no Brasil, em 1970 pela TV Record, e em 1995, pelo SBT.