
Considerado o representante mais genuíno do simbolismo português, Camilo Pessanha nasceu em Coimbra, a 7 de setembro de 1867. Há exatamente 151 anos.
Apesar da pequena dimensão da sua obra, de onde se destaca claramente Clepsidra, Camilo Pessanha é tido como um dos grandes poetas da Língua Portuguesa.
Clepsidra, o seu único livro de poemas, foi publicado pela primeira vez em 1920, graças aos esforços de Ana de Castro Osório, sua grande amiga. Depois, foi o filho desta, João de Castro Osório, que ampliou a obra inicial acrescentando-lhe poemas que entretanto foram encontrados.
Com nítidas influências do simbolismo francês de Verlaine, Mallarmé e Baudelaire, a poesia de Camilo Pessanha é melancólica, extremamente musical — De la musique avant toute chose, como dizia Verlaine — e reflete uma refunda crise existencial e uma interpretação simbólica do mundo. Camilo Pessanha antecipa também algumas tendências modernistas, como a ideia da fragmentação.
Viria a morrer em Macau, onde se encontra sepultado, em março de 1926.
Em destaque, hoje no Prelo, o poema «Chorai arcadas [Violoncelo]»:
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo…
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos…
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro…
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!…
Trémulos astros…
Soidões lacustres…
— : Lemes e mastros…
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo…
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
* Curiosidade:
Clepsidra, título simbólico que se refere a um relógio antigo, de origem egípcia, que media o tempo pelo escoamento de água num recipiente graduado, é um importante testemunho do acolhimento português da poesia europeia finissecular, sobretudo o Simbolismo, articulado com a sensibilidade decadentista. É, na verdade, uma construção poética cultivada como fragmento e representação difusa de uma realidade fugidia, a par do impulso para uma unidade remota, a consubstanciar na construção do livro.
Clepsidra
Camilo Pessanha
Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa
Julho de 2014
pp. 136