Prelo (P) — Na sua opinião o que distingue uma editora pública de uma editora comercial?
Carlos Reis (CR) — Uma editora pública tem uma função sobretudo patrimonial e de salvaguarda de valores que nem sempre são cuidados pelas editoras públicas. Uma editora pública publica autores que outros não podem publicar. O que não quer dizer que publique só esses autores.
P — O que pensa da editora Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) nestes últimos anos?
CR — Pelos exemplos que eu conheço, e conheço alguns, é uma editora que tem feito um trabalho muito profissional, até do ponto de vista gráfico. Tem responsabilidade patrimonial e vontade de chegar ao público. Porque uma editora, lá por ser pública, não tem de ser uma editora ruinosa, não tem de trabalhar só para si. Não é o caso e ainda bem!
P — Acha que a INCM presta um bom serviço público?
CR — Penso que sim! Só o facto de publicar edições críticas já seria suficiente para prestar um bom serviço público. Mas a INCM faz muito mais do que isso!
P — Indique-me três títulos do catálogo da Imprensa Nacional-Casa da Moeda que mais gostou?
CR — Além dos meus «Eças» e companhias e da Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa? Gosto do Camilo [Castelo Branco] que a INCM está a publicar; gosto da edição crítica do Pessoa que a INCM está a publicar — embora tenha algumas discordâncias quanto a critérios filológicos, mas isso é outro assunto. Ainda há pouco tempo tive de reler o Almada Negreiros e onde é que eu o fui reler? Na INCM! E creio que se não fosse na INCM não poderia relê-lo. Não sei se o Almada está publicado aí, à mão de semear. Isto é o que me vem à memória. Evidentemente, que olhando para o catálogo de edições, muito mais coisas me apareceriam. A INCM tem publicado nos últimos anos muitos trabalhos científicos, muitas vezes trabalhos académicos, que têm de ser conhecidos, que merecem ser conhecidos, e que muito provavelmente no futuro migrarão para o digital, mas que em formato papel também são muito importantes.
P — Um título que gostaria de ver no nosso catálogo?
CR — Se eu fosse capaz de a escrever, gostaria de ver no vosso catálogo a minha autobiografia.