Antena 2, 27 e 28 set. 2016
Eucanaã Ferraz — o poeta brasileiro que se surpreende pelo facto de a sua obra poética, toda reunida, resultar num volume com 600 páginas — é o convidado de Luís Caetano, em A Ronda da Noite (Antena 2), quando a INCM acaba de publicar a sua poesia completa. | 27 set. 2016
Eucanaã Ferraz — (…) Não me apeteceu melhorar os poemas. Eles são o que são, vivem com os seus erros, com os seus acertos,… Eles estão prontos, eles vivem no tempo deles. Quando você os traz para o presente, eles precisam vir com a sua cara, com o seu jeito, com a sua natureza própria.
Luís Caetano — E mudou muito, como poeta, como homem?
EF — Ah, eu acho que sim. O leitor perceberá que os poemas eram mais breves, os versos também eram mais curtos, a respiração era mais miúda, a observação do mundo era de um mundo menor, mais sob controle…. Os primeiros livros quase que se aproximam de uma natureza morta, de um mundo em pequena escala. (…) Acho que depois as paisagens foram tomando conta, foram crescendo, foram-se expandindo, os temas foram crescendo, os versos foram crescendo. Então agora me surpreendo, acho que tudo ganhou mais volume. (…) Acho que tem um outro tipo de força.
(…)
EF — (…) O poeta é um artista muito ambicioso. Todo o poeta ele quer que cada poema seja um objeto necessário ao mundo. (…) É uma coisa curiosa, porque ao mesmo tempo qualquer poeta sabe da sua fragilidade. (…) Todo o poeta sabe que está fazendo uma coisa muito difícil, de muita exigência. Todo o poeta sempre se pensa fazendo parte de uma família, onde há Camões, Drummond de Andrade, Shakespeare, Goethe,… Todos os génios que um dia já escreveram poesia existem na sua cabeça. (…) Um poeta às vezes demora muito tempo até admitir que é poeta, até usar o título de poeta.