De um ponto de vista cultural, o reinado de D. José I (1750-1777) caracterizou-se, entre outros aspetos, pela criação de instituições modernizadas, adaptadas à mentalidade iluminista, e independentes da influência de certo modo obscurantista da Igreja. Exemplos especialmente relevantes das novas políticas foram a reforma dos Estudos Menores, a fundação do Real Colégio dos Nobres e a reforma da Universidade de Coimbra.
Em 1768, são instituídas: a Real Mesa Censória, com a função de controlar o que se imprimia e o que se importava em matéria de livros; e a Impressão Régia, também designada por Régia Oficina Tipográfica, através da qual o Estado implementava uma escola de Artes Gráficas que assegurasse o ensino dos aprendizes de tipografia, e ao mesmo tempo assumia a responsabilidade de «animar as Letras, e levantar huma Impressaõ util ao público pelas suas producções, e digna da Capital destes Reinos», apoiando as instituições ligadas ao ensino.
Gozando de proteção régia, a produção tipográfica havia beneficiado, em Portugal, na primeira metade do século XVIII, de um grande avanço técnico de influência francesa, com o desenvolvimento da gravura, a melhoria das técnicas de encadernação, e a fundição de tipos de Jean Villeneuve (?-1777). Foi neste contexto que, em 1768, se institui a Impressão Régia, por alvará de 24 de dezembro, com equipamento adquirido à oficina tipográfica de Miguel Manescal da Costa (que se manteve como Administrador da oficina) e que 1732 passou a integrar também a fábrica de carateres fundada pelo francês Villeneuve.
Logo nos primeiros anos, a Impressão Régia passou a publicar anualmente centenas de títulos, que incluíam a impressão e reimpressão de compêndios (tratados de gramática da língua portuguesa, latina e grega), planos de estudo (Estatutos da Universidade de Coimbra de 1772), traduções de obras estrangeiras sobre temas científicos e técnicos, libretos de ópera, poesia panegírica, diversas obras de caráter religioso às quais se atribui uma intenção didática (novenas, sermões, rezas e orações) e legislação impressa (editais e alvarás régios) — textos fundamentais que apoiavam diretamente as instituições oficiais, acompanhando as solicitações culturais da época.
O acervo da Biblioteca da Imprensa Nacional inclui exemplares das primeiras cinco obras impressas no ano de 1769:
1. Marquês de Caraccioli, Elogio Historico de Benedicto XIV, Lisboa: Regia Officina Typografica, 1769 (com licença da Real Mesa Censória)
2. Manuel Francisco da Silva e Veiga Magro de Moura, Falla que no dia 5 de janeiro de 1766 em que se celebraram os felicíssimos annos do Ill.mº e Exc.mº Senhor D. António Alvares da Cunha […], Lisboa: Regia Oficina Typografica, 1769 (com licença da Real Mesa Censória)
3. Plano dos Estudos para a Congregação dos religiosos da Ordem Terceira de S. Francisco do Reino de Portugal, Lisboa: Regia Officina Typografica, 1769 (com licença da Real Mesa Censória)
4. Joaquim de Santa Ana, Dissertação Crítica, Historica e Liturgica sobre a nota do Prelado Nicolao Antonelli ao antigo Missal Romano Monastico Lateranense […], Lisboa: Regia Officina Typografica, 1769 (com licença da Real Mesa Censória)
5. Francisco de Santa Bárbara, Collecção dos melhores Sermões escolhidos, dos mais Célebres Pregadores, que de França, e Itália até agora tem chegado ao nosso Reino, assim dos já traduzidos, como dos novamente mudados de hum, e outro idioma para o nosso […], Lisboa: Regia Officina Typografica, 1769 (com licença da Real Mesa Censória)
MJG / RAS
Fonte:
Pedro Canavarro, Fernanda Guedes, Margarida Ortigão Ramos e Maria Marques Calado, Imprensa Nacional – Actividade de uma Casa Impressora, Vol. I, 1768-1800, Lisboa: INCM, 1975.