O livro As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga. Com notas de leitura de António Sérgio e cartas sobre a obra, agora publicado pela Imprensa Nacional, inaugura e apresenta a coleção «Obras de Mário Soares». Esta é uma coleção que, nos seus vários volumes criteriosamente documentados, além das múltiplas obras publicadas em vida — como ensaios doutrinários, depoimentos, crónicas, entrevistas, memórias, discursos e intervenções — acolherá inúmeros escritos inéditos e dispersos e milhares de cartas trocadas com grandes figuras nacionais e internacionais. Este vastíssimo espólio tem sido estudado, transcrito e anotado, dando-se a conhecer, nesta coleção, pela primeira vez, toda a obra escrita e o pensamento do político e intelectual que foi Mário Soares, figura fundamental da nossa história contemporânea, cujos testemunhos são uma fonte primária, insubstituível e essencial da historiografia portuguesa, mas também europeia e mundial recentes.
Para José Manuel dos Santos, coordenador da coleção, estas «Obras de Mário Soares» são «as de um político que queria ser escritor — e que foi escritor ao ter sido político. Para ele, a escrita e a política eram duas formas de fazer o mundo. Sem uma, a outra não era ela. Com as duas, cada uma era ainda mais do que era.».
Este volume zero, destinado a apresentar a coleção, publica a primeira tese de licenciatura de Mário Soares, que originou o seu primeiro livro, editado em 1950, com prefácio do historiador Vitorino Magalhães Godinho. O volume abre com um ensaio de José Manuel dos Santos sobre a natureza e os propósitos da coleção, e nele é também contada a polémica história da defesa pública desta tese, numa investigação dos historiadores Pedro Marques Gomes e Teresa Clímaco Leitão, e integra a edição fac‑similada da obra com notas de leitura de António Sérgio, seguida de diversas cartas inéditas sobre o livro, transcritas e anotadas, de figuras como Álvaro Salema, Mário Sacramento, Mário de Azevedo Gomes, Ferreira de Castro, Domingos Pereira, Delfim Santos, Henrique de Barros, ente outros.
A coleção «Obras de Mário Soares» conta com uma comissão científica composta por diversas personalidades, entre as quais historiadores e académicos: António Reis, Bernardo Futscher Pereira, David Castaño, Fernando Rosas, Irene Flunser Pimentel, José Manuel dos Santos, José Pacheco Pereira, Maria Fernanda Rollo, Maria Inácia Rezola, Mário Mesquita e Nuno Severiano Teixeira.
Depois de As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, a coleção vai apresentar ainda este ano uma edição crítica de Portugal Amordaçado, um dos mais importantes testemunhos de luta contra o regime de Salazar, publicado, em 1972, em Paris, sob o título Portugal Bailloné — Un Témoignage, incluindo a extensa correspondência inédita que Mário Soares recebeu e enviou sobre este livro. O volume contará com um vasto aparato crítico e também com um estudo inédito do historiador Fernando Rosas.
Republicano, socialista, laico, europeísta convicto e cidadão do mundo, como a si próprio se definia, Mário Soares pautou a sua ação, como cidadão e político, pela defesa da liberdade e dos ideais democráticos. Oposicionista à ditadura, ocupou, depois do 25 de Abril, os cargos de secretário-geral do Partido Socialista, de que foi fundador, deputado, eurodeputado, primeiro-ministro e Presidente da República. Ao longo dos anos da sua atividade, foi autor de cerca de uma centena de obras.
Como afirma José Manuel dos Santos, «as ‘Obras de Mário Soares’, que a partir de agora vêm a público, são, pela sua magnitude, um instrumento fundamental para o conhecimento da nossa história política e cultural contemporânea, constituindo também um precioso utensílio para a construção de uma biografia futura de Mário Soares e uma forma de melhor compreendermos a personalidade e a ação desta figura cimeira dos séculos xx e xxı».