Comemora-se hoje, dia 1 de julho, o Dia Mundial das Bibliotecas. Dia de evocarmos uma das mais bonitas bibliotecas da cidade de Lisboa, a de nós todos: a Biblioteca da Imprensa Nacional.
Aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h30, a Biblioteca da Imprensa Nacional, em pleno coração lisboeta é abrigo de cerca de 20 mil livros mas também palco de animados fins de tarde. Quem passa pelo n.º 135 da Rua da Escola Politécnica, entre os bairros do Rato e do Príncipe Real, ao final do dia, pode ali assistir a vários recitais, numa base quase mensal, da temporada de música de câmara da Orquestra Metropolitana, e a inúmeras leituras encenadas (para miúdos e graúdos) dinamizadas pelos atores do Teatro Nacional D. Maria II e dos Artistas Unidos. Biblioteca pública serve ainda de espaço a múltiplas apresentações de livros, conferências, clubes de leitores e exposições. Feitas as contas são cerca de 50 os eventos que anualmente ali decorrem.
De entre um dos muitos ilustres que passaram, e continuam a passar, pela Biblioteca da Imprensa Nacional está Alberto Manguel, romancista, tradutor e ensaísta argentino. Manguel escolheu-a como cenário para conceder uma entrevista a Luís Caetano para o programa Todas as Palavras. Estávamos em outubro de 2016. No Dia Mundial das Bibliotecas transcrevemos parte dessa entrevista, onde o tema da «Biblioteca» foi central.
Luís Caetano — Conversamos na Biblioteca da Imprensa Nacional, uma biblioteca cheia de história, cheia de vida. O que é que sente quando olha à volta para todas estas estantes, para todos estes livros? O que é que lhe apetece fazer?
Alberto Manguel — Deixo que os livros falem comigo. Quando estou num espaço como este, sinto que biblioteca tem a identidade da sociedade que a alberga. Então, aqui há um refinamento, e também uma certa modéstia, e também uma elegância, que faz pensar que esta biblioteca foi criada para os leitores de Lisboa.
LC — Uma biblioteca onde estamos agora, a meio da tarde… As bibliotecas são diferentes de dia e de noite, Alberto Manguel?
AM — Creio que sim. Porque, durante o dia, uma biblioteca se oferece de forma evidente. Podemos ver a ordem pela qual os livros estão expostos, podemos intuir a coerência que o bibliotecário deu ao lugar. Mas, quando cai a tarde, quando a penumbra começa a entrar na biblioteca, essa ordem desaparece. Não se consegue distinguir muito bem o que está nas prateleiras superiores, e deixamo-nos influenciar pela presença dos volumes, que é como lhe falassem numa linguagem secreta. Eu sinto que numa biblioteca, à noite é o momento em que posso pensar mais livremente. É como se a falta de ordem, ou a ordem oculta da biblioteca à noite se me revelasse sob a forma de um incitamento à pergunta, ao questionamento. E deixo que as perguntas surjam à minha volta, e ouço aquilo a que Quevedo chamava «as conversas com os mortos».