Alexandra Barreiros nasceu em Lisboa em 1969. Aos 3 anos, a família mudou-se para Paris, onde o pai exercia funções de diplomata. A errância pelo mundo, característica de O Resto do Meu Nome, obra vencedora da 3.ª edição do Prémio Imprensa/Nacional Ferreira de Castro, iniciou-se muito cedo e continua até aos dias de hoje. Tem um mestrado em Relações Internacionais obtido em Viena. Começou a sua carreira docente lecionando Francês e Inglês na Universidade de Finanças e Gestão de Varsóvia, e também lecionou Literatura no Centro Cultural Francês de Helsínquia e na Universidade Europeia de Bruxelas. Vive com o marido e os dois filhos em Genebra, onde ensina Francês como Língua Estrangeira.
Como teve conhecimento do Prémio Imprensa Nacional/Ferreira de Castro?
Fui procurar online um concurso que me permitisse enviar o meu livro não sendo residente em Portugal, encontrei o anúncio do Prémio Imprensa Nacional/Ferreira de Castro quase imediatamente.
Como recebeu a notícia de que era a vencedora da 3.ª edição do Prémio Imprensa Nacional/Ferreira de Castro e qual foi a sua primeira reação?
Foi no dia 14 de outubro de 2021, à hora do almoço (ou seja, pequeno-almoço para mim, em tempos de Covid), estava eu a ver o Lawrence da Arábia enquanto saboreava um delicioso chá fumado; no preciso momento em que o Lawrence entra, trágico e sublime, vestido de Sheik, no Officer’s Club do Cairo, o telefone tocou. Era um número desconhecido, quando é o caso normalmente não costumo atender, mas desta vez resolvi atender. Uma voz muito simpática anunciou-me que era a vencedora do concurso. Fiquei muito feliz, claro, fui buscar outro chá, e só voltei a dar pelo Lawrence quando já estava de volta a Inglaterra.
Que importância tem para si publicar na Imprensa Nacional?
Publicar na Imprensa Nacional, uma das mais antigas e melhores editoras portuguesas, é um enorme privilégio. Quando se é um escritor desconhecido, e, como é o meu caso, com total falta de sentido prático, é extremamente difícil publicar em Portugal em boas condições. Estou muito grata à Imprensa Nacional por esta oportunidade fantástica de dar o meu trabalho a conhecer a um público mais vasto.
Todos nós desenvolvemos uma relação pessoal com a escrita. Durante o processo de escrita deste livro quais foram os momentos que mais a marcaram?
Não tenho propriamente um ritual de escrita, escrevo sem horário específico; mas quando me sento à secretária para escrever, quando funciona, passo sempre por um momento de concentração absoluta, como quem faz um esforço de atenção para distinguir o timbre, a altura, a intensidade de um som distante, ou para conseguir ver com maior nitidez uma imagem desfocada… Trata-se de me aproximar o mais possível desse som ou dessa imagem; às vezes sinto que me encontro à beira de um precipício, então tento manter-me ali, em equilíbrio, para conseguir apanhar, para depois o traduzir, tudo o que oiço ou vejo dentro de mim antes que desapareça. Para mim escrever implica necessariamente um processo de tradução, é preciso transformar as sensações em palavras, para poder finalmente compreender e tornar real o que vivemos. Tenho a impressão de que, se não escrevo, as coisas não aconteceram realmente, e que só essa realidade importa.
Acho que foi Pessoa que escreveu que toda a literatura é um esforço para tornar a vida real (…) na palavra escrita o signo do insignificante subverte-se, e a extraordinária irrealidade das coisas torna-se real… O resto, e é fundamental, é corrigir, eliminar o desnecessário. Trabalhar as palavras para as tornar leves, para que me encantem.
Momentos marcantes houve muitos, a começar pelo episódio que deu origem ao título do livro, passado numa rua de Lisboa: uma menina desconhecida tinha começado a escrever as quatro primeiras letras do nome numa toalha de papel do nosso restaurante, foi interrompida pela mãe que a chamou, e desapareceu para sempre das nossas vidas, mas antes de desaparecer virou-se e disse: «Quando nos voltarmos a encontrar, vou escrever o resto do meu nome». Senti que alguma coisa de muito importante para mim se estava a passar naquele momento, uma coisa que só poderia compreender escrevendo.
Quem foi a primeira pessoa a quem deu a ler este seu trabalho?
À minha amiga Fátima Sampaio Fernandes (a quem o livro é dedicado), que conheci em Varsóvia nos tempos em que era docente de literatura portuguesa na Universidade de Varsóvia. Foi a Fátima que praticamente me obrigou a tirar o livro da gaveta, onde estava confortavelmente instalado. E é impossível resistir a um pedido da Fátima.
A propósito deste seu trabalho, o júri realçou a «qualidade estilística do texto, numa bem conseguida interpretação da crónica como género narrativo testemunhal e no diálogo estabelecido, no quadro daquele género, com lugares, com gentes e com situações culturais muito diversas, dando nota de capacidade de observação não destituída de sentido crítico», destacando ainda o «corolário da deambulação por diferentes lugares de que as crónicas dão nota e uma tonalidade cosmopolita que valoriza consideravelmente aquele olhar crítico.» Revê o seu livro nesta descrição?
Gosto da palavra deambulação. Há de facto deambulação, e ela é fundamental, porque não é somente física, é também poética e de certo modo filosófica. Mas mais do que um conjunto de crónicas, O Resto do Meu Nome é a história de uma incompletude, de uma busca de sentido, que passa necessariamente pelo registo da memória. É um livro feito de tempo, uma espécie de máquina do tempo desregrada, no qual deambulamos numa cronologia mais ou menos incerta, procurando iluminar certas imagens de um mundo submerso na memória, certas impressões obsessivas que o habitam. As cidades são pretextos, lugares onde se dão sucessivas epifanias que levam ao deslumbramento final: a referência ao nome, que é também uma meditação sobre a própria escrita. Entramos numa dimensão mágica que nos devolve a uma fusão com o mundo, ao mistério da infância, ao brilho enigmático dos faraós com que sonhava criança.
Que importância atribui aos revisores, paginadores e editores no sucesso de um livro?
Maior ou menor, consoante o grau de simbiose que têm para com a obra, mas diria que o trabalho dos revisores, paginadores e editores contribui de forma notável para a qualidade do produto final, e por isso para o sucesso do livro. Às vezes o livro usa uma máscara, e o que ele é é outra coisa ainda, que a capa não deixa antecipar.
O Resto do Meu Nome acaba de ser publicado na coleção «Comunidades Portuguesas», uma coleção que pretende dar voz e visibilidade aos portugueses que vivem, criam e trabalham fora de Portugal. Acha que Portugal tem vindo a reconhecer devidamente o valor dos seus emigrantes?
Sempre estivemos voltados para o exterior, e a nossa longa história é marcada pelos Descobrimentos. Uma abertura a outras línguas e a outras culturas caracteriza-nos, honra-nos, e faz de nós um povo com vocação intrinsecamente cosmopolita; a imigração é, pois, uma componente essencial da nossa identidade. Dar reconhecimento aos portugueses que vivem e criam fora de Portugal é, por isso, a meu ver, de extrema importância, este prémio é uma manifestação dessa necessidade e desse reconhecimento.
Os livros ainda são o lugar onde tudo pode ser dito?
Sim, desde que seja bem dito. Como diz Oscar Wilde «o artista é o criador de coisas belas, não há livros morais ou imorais, os livros são bem ou mal escritos». Isso é tudo o que realmente importa.
Quem foram os grandes mestres na sua formação enquanto leitora?
Quando era adolescente pensava que todos os grandes escritores eram franceses, e todos exclusivamente poetas, liderados por um Deus: Charles Baudelaire. Conhecia Les Fleurs du Mal quase de cor. A primeira coisa que me lembro de ter escrito foi um poema, vagamente erótico, sobre um vampiro com uma úlcera, no estilo de Baudelaire… Depois andei fascinada com as ligações perigosas de Choderlos de Laclos cujo estilo imitava, escrevendo prolíficas cartas à Marquise de Merteuil, que lia ao meu irmão, a quem cabia adivinhar se as cartas eram da minha autoria ou do Laclos. Aos 17 anos, descobri Marcel Proust, e foi uma verdadeira revelação para mim. O André Maurois escreveu acerca das longas frases de Proust que são «frases em labirinto que abarcam a realidade para dela extrair tudo o que ela pode conter…», tive então a impressão de estar a descobrir um mundo deliciosamente submerso, que me encantou e me absorveu completamente. Entrei naquele labirinto e nunca mais de lá saí. Proust foi o mestre supremo para mim, e por isso também, de certa maneira, o seu contrário, porque foi alguém que me paralisou em relação à escrita, fazendo surgir a inevitável pergunta: como escrever depois dele? Descobri que, ao contrário do que muita gente pensa, ele é intensamente divertido e cómico. Gosto muito disso num escritor. Os escritores, pelo menos na prosa, perdem em ser demasiado sérios. Quanto à dificuldade que é geralmente associada à leitura de Proust, creio que para acompanhar as longas frases basta haver silêncio e atenção, respirar com ele… O cansaço e a dificuldade que sentimos ao ler Proust não resultam da relativa complexidade da sintaxe, vêm antes daquilo que Beckett designava como sendo une fatigue du coeur (um cansaço da alma?), porque ele compreendeu tudo, com contundente lucidez, e isso cansa muito, custa muito. Desde aí nunca mais parei de o ler. Depois um dia, na sala de espera de um hospital de Varsóvia, pus-me a folhear ao acaso um velho livro de português que trazia, não sei porquê, no fundo da mala, um livro dos meus tempos de liceu, e fui dar de caras com Álvaro de Campos, desesperado, apaixonado, genial, a sonhar e a gritar por escrito na Ode Marítima. Foi um deslumbramento absoluto, um choque. Cheguei a casa e fui procurar mais poemas dele, mais textos, e depois comecei a ler tudo o que encontrava dos outros heterónimos de Pessoa, e isso levou-me a descobrir outros poetas portugueses (Mário de Sá Carneiro, Pessanha (que já conhecia por ouvir o meu avô recitá-lo efusivamente), Sophia de Mello Breyner (que adoro), Eugénio de Andrade, Cesário Verde, Ruy Bello, Miguel Torga… assim como muitos poetas polacos (Wyslawa Szymborska, Zbigniew Herbert, Tadeusz Rózewicz, etc.) e ao ler Pessoa, descobri inevitavelmente pelo caminho o extraordinário Eduardo Lourenço, que considero um escritor brilhante; foi de resto ele que escreveu sobre Pessoa uma coisa extraordinária: «Uma sensibilidade que procura atingir a transparência da inteligência mergulha a inteligência na luminosa confusão da sensibilidade»; todo Pessoa está aí, e todo Proust também, porque são afinal muito parecidos. Para Pessoa criar perspetivas através dos heterónimos é um método de dissolução do eu, para abarcar a realidade toda, como o fazem as frases serpentinas de Proust através da concentração do eu. Aqui também entramos num labirinto estonteante. Mas voltando a Pessoa, se entrei na obra dele pela porta mágica da Ode Marítima, deram-se deslumbramentos sucessivos com poemas como Tabacaria, Ao volante do Chevrolet, pela estrada de Sintra, ou a sublime Marcha Fúnebre para o Rei Dom Luis Segundo da Baviera, para não falar no Livro do Desassossego… Proust e Pessoa serão, pois, os meus dois grandes «mestres» e vejo-lhes grandes parecenças.
Mas depois há escritores com os quais sinto uma enorme afinidade, e que me marcaram muito: Romain Gary e António Lobo Antunes, Albert Cohen, Witold Gombrowicz (cujo delicioso mau humor muito aprecio, sobretudo nos diários), Tolstoi, Dostoievski, Saint‑Exupéry, Mishima, Eça de Queiroz, Nabokov, Milan Kundera, Adolfo Bioy Casares e Italo Calvino.
A seu ver, qual é a importância de se ler os clássicos?
Imensa. Os clássicos são aqueles livros que nunca deixam de dialogar connosco, que nos obrigam a voltar a eles, que não se esgotam, que nos abrem mundos… mas é necessário lê-los com amor, curiosidade, paixão. Se forem lidos por obrigação, perde-se tudo. E há muitos que ainda não li… isso enche-me o horizonte de coisas brilhantes por acontecer, Moby Dick, King Lear, de resto quase todo Shakespeare, que só li pouco e em francês no liceu, O Genji Monogatari, grande clássico da literatura japonesa, etc.
Tem um livro a que volta sempre? Qual?
Le Temps Retrouvé [O Tempo Reencontrado], de Proust.
Também não posso deixar de referir La Promesse de l’Aube de Romain Gary, As Velas ardem até ao fim de Sándor Márai, e O Mundo de Ontem de Stefan Zweig, são livros que releio muito. E o Grande Gatsby, que considero um livro perfeito. Também li O Nome da Rosa de Umberto Eco umas quantas vezes, e estou sempre com vontade de recomeçar.
Além disso adoro diários, e sobretudo diários escritos durante a Segunda Guerra Mundial, um período que me interessa muito; são máquinas para viajar no tempo, é fascinante ver uma entrada com o nome de uma cidade e uma data, por exemplo Paris, 13 de outubro de 1943, por exemplo, no magnífico diário de Julien Green.
Se Portugal voltar a receber um novo Nobel da Literatura que nome gostaria de ver escolhido?
António Lobo Antunes, sem dúvida.
Qual é a sua palavra preferida em língua portuguesa? Porquê?
Adoro a palavra madrugada, é leve, transparente, parece que se abre aos poucos, cheia de luz azul, de lentidão e de vento. Gosto muito do nome Inês. É o nome da minha filha. Começa num sorriso leve, altivo, e acaba num murmúrio que quase nos obriga a falar baixinho, como para dizer um segredo. Adoro a palavra desassossego… é ondulante como uma longa serpente, circular, fechada, secreta. Gosto de tantas palavras em português, é muito difícil escolher uma… é uma língua lindíssima, cheia de doçura e introspetiva melancolia (embora estas qualidades não sobressaiam ao ouvir, por exemplo, o telejornal, ou a chamada música pimba). Gosto muito dos diminutivos em português, essas palavras que se transformam com inho no fim; que sabe bem dizer em voz baixa, que são miniaturas. Há, de resto, no livro, uma longa meditação sobre as variantes de uma palavra, a palavra «carro» em várias línguas.
As línguas são portas mágicas que se abrem sobre o mundo e o transformam. As palavras, como disse Court de Gébelin, têm uma energia em si próprias, não são o produto de uma convenção. Se dissermos carro, voiture, wagen, máquina, car… estamos a falar de um objecto que necessariamente possui certas características, mas evocamos imagens diferentes: o carro é um tanto rústico, telúrico, como um cais que se desloca lentamente num mar simultaneamente temido e sonhado, com ventos, monstrengos e sublimes nevoeiros interiores… A voiture é vaidosa, tem bicos, ângulos límpidos e ambiguidades fingidas, arbustos talhados numa simetria à Versailles, caprichos de cortesã e a calculada volúpia de sublimes decotes… A wagen é futurista, funcional, desliza simplesmente e concretamente, sem ondas nem atrasos, com a geométrica e sedutora eficiência de uma lâmina bem afiada. Há uma música leve, uma inconstância volúvel, na palavra máquina, e uma sobriedade altiva e elástica na palavra car. As línguas são possibilidades, traduções incompletas de uma realidade plural e infinitamente complexa, ou se preferimos, são sonhos distintos, com cores e temperaturas que nos envolvem e nos afectam com uma precisão meteorológica. Sonhos que talvez não sejam senão a expressão de uma realidade caleidoscópica e fragmentada.
Que influência têm as outras artes na sua criação?
Não consigo viver sem ouvir música. Quando chegamos à última fronteira daquilo que pode ser dito na escrita, só existe a música, e com ela o silêncio. Escrevo sempre com música. Quase todo O Resto do Meu Nome foi escrito a ouvir as Gymnopédies de Erik Satie. Há músicas que me acompanharam toda a vida, de tal forma que não sei dizer a que ponto influenciam a minha escrita, porque fazem parte de mim, da minha sensibilidade; cresci a ouvir Bossa Nova, Billie Holiday, Jaques Brel. De resto também oiço muito Chet Baker, Django Reinhardt, Supertramp (uma música de uma alegria solar atravessada de melancolia), o Vangelis de Blade Runner, o Elton John do Tumbleweed Connection, o Art Garfunkel de Scissors Cut; Chico Buarque, Paul Simon… para citar os meus preferidos. Na música clássica gosto de Schubert, Mahler, Debussy, Bach (mais dos adagios e menos dos alegros…)
Também adoro Cinema. Há certos filmes que me marcaram de forma indelével, para citar só alguns: Morte em Veneza de Visconti, Blade Runner de Ridley Scott, Gallipoli de Peter Weir, Jules et Jim de Truffaut, Au revoir les Enfants de Louis Malle, Shooting the Past e Perfect Strangers de Poliakoff, Paris Texas de Wim Wenders, The Third Man de Carol Reed, Vertigo de Hitchcock (com a fabulosa banda sonora de Bernard Hermann), Solaris de Tarkovski, El Espíritu de la Colmena de Victor Erice, e mais recentemente Nocturnal Animals de Tom Ford. Mas acima de tudo O Deer Hunter de Michael Cimino. É um filme absolutamente perfeito, uma espécie de milagre, um filme que transcende a tristeza e o sofrimento para se transformar em emoção pura.
Depois há filmes que não me canso de ver e rever, como La Grande Vadrouille de Gérard Oury, uma delícia, com Louis de Funés e Bourvil. A cena final, quando os heróis escapam aos alemães no planador que desliza levemente no ar até chegar à zone libre, a alegria deles, comove-me quase até às lágrimas. Além disso os anos setenta é um período que me fascina no cinema. Há, por exemplo, um charme extraordinário em certas cenas de Marathon Man, ou nos primeiros dez minutos de Planet of the Apes (perde muito depois de os macacos aparecerem). Adoro ver o Charlton Heston a jogar xadrez com um robô enquanto fala sozinho, rodeado pelos loucos incendiários do Omega Man.
Foi também muito importante para mim a exuberante alegria dos musicais de Hollywood que tanto vi quando era criança, com Gene Kelly, Rita Hayworth e Phil Sivers no Cover Girl a cantar Tomorrow enquanto procuram pérolas nas ostras, ou Fred Astaire num estonteante sapatear teto acima… Transmitiram-me a inabalável convicção de que, apesar de terrível, a vida é, ou pelo menos pode ser, ou sonhar-se, maravilhosa. Isso é uma ideia fundamental na minha escrita, apesar do meu pessimismo intrínseco.
Na pintura encanta-me a relação quase mística com a luz nos quadros de Caravaggio e de Vermeer. Também gosto muito de Gustav Klimt, que acho complexo e fascinante, muito para além do ornamental.
Tem outros projetos no campo da escrita?
Um policial medieval, intensamente introspetivo, passado na Beira Baixa… Não! Enfim, sim… pensando bem, seria fabuloso… mas por enquanto estou a trabalhar noutra coisa, que terá mais a ver com um diário de impressões e reflexões (talvez menos obviamente aliciante do que o policial medieval, mas que terá o seus momentos…), gostaria que fosse como esse livro ideal de que fala Flaubert: «um livro sobre nada, um livro que se pudesse aguentar sozinho, pela força intrínseca do estilo, como a terra sem estar amparada se mantém no ar, um livro quase sem assunto, ou no qual o assunto fosse quase invisível».
O que podem esperar os leitores de O Resto do Meu Nome?
Fico muito feliz quando alguém me diz que riu muito, ou que chorou, ao ler certas páginas do livro. É um livro que escrevi por absoluta necessidade, procurando aproximar-me o mais possível da realidade que senti e sonhei, a única que importa. Espero muito que os leitores do livro possam sair da leitura encantados. Como escreve Charles Danzig: «A literatura não serve para consolar, serve para encantar». Espero que O Resto do Meu Nome consiga fazer isso.