Ficha
«Uma imposição ao administrador da Imprensa Nacional, em nome dos revolucionários.
A Imprensa Nacional tem também nos acontecimentos o seu lugar de destaque. Foi o caso que dois capitães de Caçadores 5, acompanhados pelo atual diretor da Biblioteca Nacional, o Sr. Dr. Fidelino de Figueiredo, ali se dirigisse pelas 10,30 da manhã, procurando avistar-se com o administrador geral daquele estabelecimento do Estado. Recebidos pelo Sr. Luís Derouet pretenderam que fizesse publicar no ‘Diário do Governo’ em suplemento, um diploma destituindo, em nome do Exército, todo o Governo, e nomeando o comandante Filomeno da Câmara ditador e ministro de todas as pastas.
Foi-lhes recusada essa publicação. Nem aquele documento trazia a chancela oficial, nem os portadores credenciais que os autorizassem a intimar a publicidade reclamada.
— Eu aqui, declarou o Sr. Luís Derouet, só posso receber ordens de quem de direito. Não sou contra nem a favor dos revoltosos. Se o movimento é republicano V. Ex.as legalizam esses documentos que dizem vir em nome do Exército e da Marinha. Se o movimento não é republicano, não necessito que os senhores me demitam porque sei bem o que tenho a fazer. Agora, se os senhores possuem força para isso, têm dois caminhos a seguir: ou prenderem-me imediatamente e tomam conta da Imprensa Nacional, ou então trazem os documentos legalizados com o selo em branco [sic], e eu então obedecerei.
Concordaram os comissionários [sic], observando, porém, que mandasse o Diretor da Imprensa alguém da sua confiança a Caçadores 5, a fim de constatar a legitimidade da situação. — Vou eu próprio — respondeu — E o Sr. Luís Derouet seguiu com o Diretor da Biblioteca e os dois oficiais a Campolide, onde, contudo, não puderam ser recebidos, apesar das instâncias do Sr. Fidelino de Figueiredo. E o Sr. Derouet voltou para a Imprensa Nacional, tendo o Sr. Fidelino de Figueiredo, mais tarde, sido preso em sua casa e conduzido ao quartel da Aviação, na Amadora.
Era ele o indigitado ministro da Instrução do gabinete saído do golpe de Estado e foi preso pelo capitão de engenharia Sr. Carlos Sardinha, chefe do gabinete do Sr. Dr. Alfredo de Magalhães.
A Imprensa Nacional foi guardada por uma força da GNR.»