Detalhes de documento

  • Arquivo
    Arquivo do InstArquivo do Instituto Camõesituto Camões
  • Cota
    PT/MNE/CICL/IC-1/00775/18
  • Tipo de documento
    Cópia de ofício
  • De:
    Federação Nacional dos Sindicatos dos Tipógrafos, Litógrafos e Ofícios Correlativos
  • Para:
    Ministro das Corporações e Previdência Social
Transcrição

«Em obediência ao despacho de 17 do corrente de Sua Excelência o Ministro das Corporações e Previdência Social, tenho a honra de enviar a V. Exa., em anexo, cópia dum ofício da Federação Nacional dos Sindicatos dos Tipógrafos, Litógrafos e Ofícios Correlativos. (…) Lisboa, 23 de Dezembro de 1950, Pel’O Chefe de Gabinete (A. Gonçalves Lourenço).»

Cópia do Ofício da Federação, dirigido ao Ministro das Corporações e Previdência Social:

«Senhor Ministro das Corporações e Previdência Social
Excelência:

Correspondendo à afirmativa de que nem só os interesses de directo e imediato efeito económico são motivo de preocupação para os trabalhadores e que os assuntos de ordem técnica e profissional também lhes merecem especial atenção, este organismo vem perante V. Exa. Expor um problema que reputa importantíssimo para a arte tipográfica, ocupando-se ao mesmo tempo de factos, particularmente interessantes, que se lhe relacionam.
Sabido que enquanto na composição tipográfica vigorou apenas o sistema do trabalho manual, a arte de compor esteve totalmente dependente da fundição de tipos, que produz o material respectivo, do mesmo modo se conhece que depois de introduzido o sistema mecânico na composição, que tem o fim principal de aumentar a capacidade produtiva, mormente em determinados géneros de trabalho, a composição manual não deixou de prosseguir como necessária à execução de trabalhos cuja natureza, por sua vez, o exige também, e, ainda, como indispensável à laboração de uma grande parte das oficinas tipográficas existentes no País, com orgânica ou dificuldades financeiras que não aconselham ou não permitem a aquisição de máquinas de compor.
Mestres consagrados proclamam que a arte do livro alcança mais expressão na composição manual. E se é certo que essa expressão (p. 1) na composição manual. E se é certo que essa expressão depende muito do engenho dos artistas, ela não é, realizável sem material adequado, que só a fundição de tipos fornece. Esta continua a ser, pois, a Base da tipografia em várias ramificações da sua finalidade, como o confirma a marcha da indústria tipográfica nos países de maior adiantamento, onde a composição mecânica desempenha o papel que lhe é destinado e a composição manual ocupa o devido lugar.
Da harmonia com o que a principio dizemos, tem esta Federação a necessidade e o dever de fomentar e acompanhar, dentro do âmbito que lhe é próprio, todas as medidas que lhe pareçam úteis no sentido de Portugal se afirmar no ramo de actividade que é a tipografia como unidade absolutamente à altura da civilização que o Mundo atingiu.
Regozijou-se [sic.], portanto, este organismo ao ter conhecimento de que o Instituto para Alta Cultura haver deliberado, recentemente, propor a concessão de uma bolsa de estudo, com a duração de dois meses, em França e Itália, ao Exmo Senhor Manuel Lopes Canhão, sub-chefe da oficina de fundição de tipos da Imprensa Nacional e mestre da respectiva escola.
Atendendo aos benefícios que da citada missão podem advir, e ainda por conhecer o alto nível técnico que exorna o beneficiário da bolsa de estudo, passa a fundamentar esta exposição nos factos que a convencem da competência profissional daquele digníssimo obreiro gráfico.
Com a autoridade que lhe dão trinta anos ao serviço da (p. 2) fundição de tipos, o Exmo Snr. Manuel Lopes Canhão publicou um livro intitulado “Os caracteres de imprensa e a sua evolução histórica, artística e económica em Portugal”. Esta obra, tomada em alto apreço pelo Grémio dos Industriais Gráficos, foi este editado e, ante o mérito encontrado nela, o mesmo grémio não hesitou em oferecer um exemplar a Sua Excelência o Presidente do Conselho.
O autor cita o facto de a tipografia em Portugal se ver, em todo o sempre, completamente sujeita aos tipos estrangeiros, quer importados, quer reproduzidos, e defende [sic.] a criação de caracteres de imprensa genuinamente portugueses, desde a concepção e o traço, o desenho, enfim, à sua fundição. Afirma ainda, com bastas razões, que a melhoria de condições de funcionamento da fundição de tipos, traduzindo-se, técnica e artisticamente, pela renovação e adaptação do material que se funde e, economicamente, pelo seu barateamento, tudo a bem da tipografia, fazendo diminuir, senão evitar a importação, teria projecção muito apreciável no conceito nacional.
Numa conferência que realizou na Sociedade de Geografia de Lisboa, e noutros trabalhos subordinados aos intuitos expostos o mesmo autor tem pugnado, muito animosamente, pela consumação dos pensamentos que constituem tão magno problema.
Foi sob parecer francamente favorável da Administração da Imprensa Nacional que o Instituto para a Alta Cultura, conhecedor das aspirações de valorização técnica e profissional do artista em referência para melhor fazer vingar o sentido de utilidade nacional dos objectivos enunciados, tomou a deliberação acerca da bolsa de estudo, atrás mencionada. (p. 3)
Em face do que acabamos de expor, e porque esta Federação considera a dita bolsa de estudo um passo assaz importante para a imperiosa solução do problema dos caracteres de imprensa entre nós, intimamente ligado à posição profissional da numerosa classe tipográfica, vimos solicitar, muito respeitosamente, a aquiescência do Exmo. Snr. Ministro das Corporações e Previdência Social aos intuitos da citada missão no estrangeiro e bem assim o subido obséquio de interceder junto de Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional para que ela seja um facto.
De valiosa aquiescência que vimos solicitar, de algum modo irradiaria o alento necessário aos cometimentos de que a tipografia tanto carece, a fim de que passe a desempenhar mais satisfatoriamente o seu papel e a dar uma efectiva contribuição ao prestigio das actividades nacionais.

(…)

A bem da Nação
Lisboa, 15 de Dezembro de 1950.

O Presidente

a) Tomaz de Aquino (p. 4)»