Ficha
«A Imprensa Nacional vai impulsionar a sua atividade editorial, reafirmando uma tradição cultural com mais de dois séculos, segundo declarou ao ‘DN’ o Dr. Farinha de Carvalho, responsável pelo setor livreiro daquela empresa pública.
Dentro dessa dinâmica, poder-se-á referir o empenhamento da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), numa maior divulgação do importante espólio literário do País, estando já a funcionar um sistema de crédito através do qual o livro se torna um bem mais acessível à generalidade da população.
O nome da Imprensa Nacional é normalmente — e apenas — associado ao ‘Diário da República’ já que, durante muito tempo, a publicação de livros foi relegada para segundo plano, situação que, em certa medida, ainda se mantém. Pretende-se, no entanto, recuperar agora o lugar importante que o setor livreiro desempenha na empresa.
‘Nós fomos herdeiros de muitas publicações que constituem um espólio cultural extraordinário e que nós temos o dever de divulgar’, declarou o Dr. Farinha de Carvalho, sublinhando o valor das atividades em curso nas livrarias de Lisboa, Porto, Coimbra, e também da Livraria Camões, no Rio de Janeiro.
‘É oportuno referir que as pessoas estão novamente a tomar consciência da importância do livro, porque a censura, durante cerca de 50 anos, atuou de forma negativa na cultura. Inculcando o medo nas pessoas, fez com que elas progressivamente se alheassem dos valores culturais. Assim se compreende que obras fundamentais tenham sido publicadas e fossem esquecidas nas prateleiras das livrarias’, adiantou o conselheiro cultural da INCM.
Não deixou porém de sublinhar, paralelamente, a perda de poder de compra das populações e os preços proibitivos praticados em relação às publicações de maior interesse.
Estas questões, consideradas determinantes, levaram a Imprensa Nacional a criar um sistema de vendas a crédito para tornar o livro mais acessível e incentivar a sua divulgação.
Pode ler agora e pagar depois
Há cerca de um ano e meio, foi criado o sistema de crédito nas livrarias da INCM que, ‘não tem como objetivo o lucro mas a divulgação da cultura. Trata-se de um sistema suave de pagamento de obras’.
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O contrato de pagamento a crédito pode ser feito nas várias livrarias ou através de vendedores que a INCM tem na rua.
Neste momento, a empresa tem falta de vendedores, ‘embora não possa ser qualquer pessoa a vender as obras que temos’.
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Apoiar as universidades
A atividade editorial não é conhecida ainda nos meios universitários, e é aí que os responsáveis pensam levar a cabo uma campanha de divulgação. No entanto, há obstáculos — diz-nos o Dr. Farinha de Carvalho —, porque ‘esta casa é muito antiga e se isso tem importância, também daí nos advêm os defeitos. É uma casa muito burocratizada o que dificulta todas as iniciativas. Os anos pesam muito nesta máquina’.
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A divulgação nas universidades vai começar com a colocação de montras para exposição das obras que possam interessar aos investigadores, professores e estudantes.
Na opinião do Dr. Farinha de Carvalho, a Imprensa Nacional não quer competir com as editoras privadas, por exemplo, a nível do livro escolar, ‘porque tem um espaço próprio no contexto editorial português. Penso, no entanto, que o Governo se devia servir da editora oficial para custear ou subsidiar obras que depois pudessem chegar ao público a um preço acessível’.
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Reedição de obras esgotadas
‘A Imprensa Nacional não pode aceitar na sua edição qualquer tipo de obra, porque não procura o oportunismo editorial’ disse o Dr. Farinha de Carvalho, explicando a forma como são escolhidos os livros para editar.
‘Neste momento, procuramos reeditar livros importantes do ponto de vista cultural e que estão esgotados […].’
A reedição desses livros é feita agora com prefácios de historiadores e especialistas ‘que possam dar uma visão atual dessas obras’.
Os projetos editoriais da INCM incluem a continuação da coleção estudos Portugueses e Álbuns de Arte, além da de livros de historiadores portugueses ainda desconhecimentos do grande público, como sejam José Félix Henriques e Diogo Couto.
De acordo com o Dr. Farinha de Carvalho, num futuro próximo a INCM poderá publicar livros de literatura africana de expressão portuguesa.
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Documentos importantes
Além do setor livreiro, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda possui ainda uma secção de medalhística, um museu numismático e uma excelente biblioteca.
‘A nossa biblioteca é tremendamente rica e não está estudada. Ela tem milhares de documentos com um valor enorme para quem esteja disposto a fazer a história económica do nosso país’ — declarou o conselheiro cultural da INCM. […]»