Impacto da greve geral.

  • Referência
    «A greve dos sindicatos — Lisboa Paralisada durante dois dias», O Mundo, n.º 4091, de 31 de janeiro de 1912, pp. 1-2.
Assunto

Impacto da greve geral na Imprensa Nacional.

Ficha

«[…]
Na Imprensa Nacional — Devido às providências adotadas este estabelecimento não paralisa o seu trabalho. Anteontem de manhã um bando numeroso, entre o qual avultavam poucos operários grevistas, procurou impedir que a Imprensa Nacional laborasse. Posto ao corrente dos acontecimentos o administrador deste estabelecimento imediatamente providenciou para que a liberdade de trabalho ali fosse assegurada, tendo-se recusado antes a reconhecer uma comissão que se destacara do referido bando e que dizia compor-se de operários grevistas. Não podia proceder de outra maneira, na sua qualidade de funcionário do Estado, o Sr. administrador da Imprensa. De resto, o mesmo funcionário havia feito constar que não impunha a nenhum dos artistas ou operários da Imprensa a obrigação de trabalhar. Assegurada a ordem dentro das oficinas da Imprensa igualmente se providenciou para que ela fosse assegurada no exterior. Do Carmo saiu um piquete de cavalariça da guarda republicana e uma força de infantaria da mesma guarda, que guarneceram o portão principal, a entrada da rua do Noronha para o armazém dos tipos e ainda a entrada do tapume das obras do edifício em construção que olha para a rua da Escola Politécnica.
Pouco depois da hora do lanche dos operários da Imprensa um outro bando, composto de uns duzentos a trezentos indivíduos, na sua maioria imberbes, capitaneados pelo já célebre Constantino Mendes, o Norte, cuja profissão não é conhecida, foi fazer arruaças em frente do referido estabelecimento, dispersando pouco depois à notícia de que vinha em caminho um novo piquete, da cavalaria da guarda republicana.
Ontem de manhã, mais cedo do que na véspera, isto é, precisamente à hora de começar a laboração, outro grupo tentou de novo impedir a entrada do pessoal, não conseguindo, porém, o seu intento e limitando-se a cobrir de chufas e doestos os operários que pacificamente iam tomar as suas ocupações, não poupando nas suas injúrias o administrador e o diretor das oficinas e armazéns da Imprensa, que se encontravam à porta do estabelecimento desde as primeiras horas da manhã.
O trabalho em todas as oficinas da Imprensa foi normalíssimo, durante o dia e a noite de ontem e de anteontem, notando-se entre cerca de 500 artistas operários, que ali estão empregados, apenas a falta de uma meia dúzia deles. É de registar que do pessoal feminino não houve nenhuma falta apesar dos boatos atemorizadores que se haviam feito espalhar propositadamente. […]»