Ficha
«Amanhã, pelas 11 horas, inaugurar-se-á, conforme reza o programa oficial das festas de Vasco da Gama, a exposição bibliográfica na Imprensa Nacional, e que, tudo pelo menos o leva a crer, constituirá um dos números mais significativos da comemoração do IV centenário da morte do glorioso Navegador. Na Imprensa Nacional, onde ontem estivemos ao fim da tarde, dão-se os últimos retoques no programa da cerimónia, que será honrada com a visita do Sr. Presidente da República, do governo, das embaixadas especiais e do corpo diplomático, tendo-nos sido fácil colher alguns pormenores, que achamos interessante reunir como prémio da exposição a que deu um concurso muito especial o ilustre homem de letras Sr. António Sérgio.
A lindíssima sala da Biblioteca da Imprensa Nacional, sem alteração da sua natural estética, acha-se belamente engalanada. A todo o seu comprimento, em duas longas mesas dispostas paralelamente, e na mais rigorosa seleção bibliográfica, estão dispostas, sobre colchas de damasco vermelho, as mais raras e interessantes espécies com que contribuíram brilhantemente para a exposição a Biblioteca Nacional, o Arquivo da Torre do Tombo, e as bibliotecas da Academia das Ciências, da Sociedade de Geografia, da Faculdade de Ciências da Marinha e da própria Imprensa, e ainda os Srs. Dr. Leite de Vasconcelos, Pedro de Azevedo, Matos Sequeira, João Rosa, Luís Derouet, etc. […]
São em número elevado as espécies apresentadas, todas elas interessantes, entre as quais figuram a 1.ª edição dos Lusíadas, da Academia das Ciências, exemplar raríssimo cujo valor é escusado apontar; Corpo Chronológico — Um documento com o n.º 90, datado de 1524, com a assinatura de Vasco da Gama, e uma das mais preciosas raridades, pelo seu valor documental, que a todos vai ser dado admirar; Livro da Nobreza, de António Godinho, recheado de belas iluminuras representativas dos brasões dos grandes de Portugal, o qual figura ao lado da assinatura autógrafa do conde almirante, aberto na página onde figura o brasão de Vasco da Gama e o dos seus descendentes; o Livro 4 de Além Douro (leitura nova); outro exemplar belamente iluminado, onde se vê, numa miniatura uma armada que se julga ser a do descobridor da Índia; um belo exemplar, espelhado, de excelente conservação, da Crónica de D. Manuel, de Damião de Góis, e o Atlas de Hidrográfico, de Vaz Dourado, muito precioso. A Torre do Tombo fez-se assim representar com cinco exemplares maravilhosos.
A Biblioteca Nacional figura na exposição largamente: além de uma boa coleção de gravuras e litografias (retratos de Vasco da Gama e alegorias aos seus feitos, são espécies de um altíssimo valor, entre outros, os dois volumes da História da Índia, de António Bocarro; a edição gótica das Décadas, de João de Barros; o raríssimo incunábulo de Zauti 1496 (tabelas astronómicas); a História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses [1502-1561], Atlas, de M. Vivien de Saint‑Martin; a Conquista de las islas Malucas 1609, por Bartolomeu Argensola; e um nunca acabar de livros de autores estrangeiros, em todas as línguas, cantando a epopeia do grande navegador.
[…]
Ainda nos vãos das janelas, na mesma artística disposição que denuncia bom gosto, se encontram dispostos exemplares e gravuras, completando-se assim o belo aspeto que oferece a linda sala da Biblioteca da Imprensa Nacional.»