História do Diário do Governo.

  • Referência
    PEREIRA, José Augusto da Silva, «A Gazeta de Lisboa e o Diário do Governo», O occidente: revista illustrada de Portugal e do estrangeiro, n.º 679 [ i. é. 579 ], de 25 de janeiro de 1895, p. 23, e n.º 580, de 5 de fevereiro de 1895, p. 30.
Assunto

Evolução e história do Diário do Governo, desde a Gazeta de Lisboa.

Ficha

[25 de janeiro:]
«O Diário do Governo é hoje o jornal mais antigo que se publica no reino, pois que foi iniciado como folha oficial do governo português logo depois da revolução de 1820. Nas dolorosas e diferentes oscilações porque passou o país nas lutas entre o absolutismo e o constitucionalismo desde 1820 até 1833, dois órgãos oficiais do governo apareceram em campo para lhe defenderem os seus atos e para darem à luz da publicidade as peças oficiais governativas. Um desses órgãos foi a célebre Gazeta de Lisboa, absolutista de nascença, velha rabugenta, criada nos primeiros anos do reinado de João V, sendo chanceler mor do reino D. Tomás de Almeida, que depois foi o primeiro cardeal patriarca de Lisboa. O outro veio, como acima dizemos, com a gloriosa revolução liberal e portanto com toda a seiva da juvenilidade, pronta a combater o despotismo e a tirania e a derramar por sobre o país os benefícios eflúvios da liberdade.
A Gazeta de Lisboa pode dizer-se que foi como que a continuação das célebres Gazetas em que se relatavam as novas da guerra entre Espanha e Portugal ferida [sic] depois da restauração do reino por D. João IV. Essas gazetas que se publicaram, com intervalos, segundo parece, desde 1641 até 1647, são chamadas da Restauração.
A primeira Gazeta de Lisboa, apareceu em sábado, 10 de agosto de 1715. Não veio precisamente com essa denominação. Trouxe na folha de rosto o título: Notícia dos Estados e no frontispício os dizeres:
História anual cronológica e política do Mundo e especialmente da Europa — Onde se faz memória de…
Em seguida enuncia os assuntos de que se ocupará, que omitimos por serem tantos que ocupam toda a lauda.
Traz várias notícias nacionais e estrangeiras, algumas nomeações feitas pelo governo português e fecha com o privilégio novamente concedido, a António Correia Lemos, o que denota que esse tipógrafo já anteriormente havia tido idêntico privilégio para qualquer outra publicação.
O n.º 2 saiu já com o título da Gazeta de Lisboa. É datado do dia 17 do dito mês.
Depois a publicação foi continuando regularmente até janeiro de 1760 […]
O privilégio de impressão da Gazeta, que era composta sobretudo por notícias e redigida por José Freire de Monterroyo Mascarenhas, ‘o verdadeiro fundador do jornalismo português’ pertencia então a Correia de Lemos. Mas sua progressiva intromissão na direção e as acusações de nela constarem ‘algumas notícias e advertências indecentes’ terá levado à perda deste privilégio, transferido para Monterroyo, passando a ser impressa na oficina de Pedro Ferreira; em 1760, e em consequência da morte de Monterroyo, a concessão deste privilégio passou para os ‘oficiais da secretaria dos negócios estrangeiros e da guerra’.»
[5 de fevereiro:]
«Subindo ao trono a rainha D. Maria I e sendo demitido de todos os seus cargos políticos o marquês de Pombal reapareceu a suspensa gazeta continuando com o privilégio os oficiais da secretaria dos negócios estrangeiros e da guerra como se vê do alvará de 22 de março de 1781 no qual concedendo-se o privilégio à Academia Real das Ciências para privativamente fazer imprimir publicar e vender as obras que ela fizer, se substabelecem os antigos privilégios referentes às outras publicações periódicas ?….?.
A gazeta que até 1762 havia sido impressa na Impressão da Secretaria de Estado passou a imprimir-se na Régia Oficina Tipográfica, mas convém dizer que já ao tempo da ratificação, ou renovação desse privilégio, isto é, desde 4 de agosto de 1778, a gazeta se publicava sendo dirigida por Felix António Castrioto.
Desde 5 de fevereiro de 1808 (n.º 5 da gazeta) até à expulsão dos franceses, em 24 de agosto (n.º 31 da dita) a publicação dessa folha noticiosa correu sob as ordens de Junot e nela foi substituído o escudo das armas reais portuguesas que a encimava, pela águia imperial.
Foi desde então que a célebre gazeta teve por diretor Mr. Pierre Lagarde intendente geral da polícia, que fez daquela folha o órgão oficial do governo francês.
Debaixo dessa nova direção se conservou a Gazeta de Lisboa até ao n.º 313, de 30 de dezembro de 1820, em que tendo os acontecimentos mudado de fase pela gloriosa revolução liberal, a velha absolutista foi substituída pelo juvenil Diário do Governo, ou, para melhor dizer, fundida com ele, porque o Diário já se achava em publicação desde 16 de setembro do referido ano.
O dia 16 de setembro foi o seguinte àquele que se formou em Lisboa a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, criada pela mesma revolução.
O 1.º número do Diário trouxe, entre outros artigos, o auto do juramento de obediência, feito pela nobreza do reino à dita Junta Governativa e a notícia de ter fundeado no dia 10 no porto de Lisboa, vinda do Rio de Janeiro, a nau Vengeur, trazendo a bordo lorde Beresford, e relata as providências que o governo entendeu tomar para impedir o desembarque do general inglês.
O formato dessa folha foi o de folio (papel argamasso) a duas colunas, sendo estampado na Impressão Régia. Era seu redator António José Maria Campelo.»