Ficha
«O procedimento das associações operárias tem sido digno de todo o elogio.
As respetivas direções tomaram, na situação angustiosa em que nos achámos, as providências que estavam ao seu alcance, para que os sócios, quando atacados da febre reinante, fossem pronta e eficazmente socorridos; e de feito consta-nos que tanto os funcionários daquelas associações, como os seus inteligentes facultativos, têm desenvolvido o mais louvável zelo no desempenho dos importantíssimos deveres a seu cargo.
São factos estes que folgámos de mencionar, e que honram altamente aqueles corpos populares.
É força porém confessar que a posição das associações operárias é, na atualidade, mui embaraçosa e difícil; porque, infelizmente, bastantes dos seus membros têm sido feridos do terrível flagelo; os fundos de socorros, em algumas, acham‑se esgotados, ou prestes a exaurir-se, tendo talvez de recorrer aos fundos de reserva, ou aos que estão destinados a outra e determinada aplicação.
Hoje é pois a febre amarela que põe deste modo em perigo a existência e futuro de tão prestantes sociedades, e ninguém pode segurar-nos que amanhã não virá outra eventualidade da mesma maneira ameaçá-las.
Aprendam os operários nesta severa lição a ser mais previdentes; as associações, no estado atual, acham-se constantemente num iminente perigo; e esta e outras circunstâncias cada vez tornam mais palpável a necessidade da federação, de reunir em um só todos os cofres, e de promover por todos os meios e com energia e tenacidade o alistamento do maior número de obreiros nos seus competentes grémios.
Há em Lisboa muitos artistas de todas as classes, talvez dez a doze mil; e se ao menos a maioria deles fosse associada, se estivessem administrativa e economicamente unidos pela federação, temos a convicção profunda de que os recursos superabundariam, e não haveria a recear crises semelhantes. […]»