Ficha

«[…] Deram a honra da sua comparência o Sr. Dr. Teófilo Braga e o presidente eleito da República Sr. Dr. Bernardino Machado, além de alguns membros do governo, do presidente da câmara dos deputados, de vários deputados e senadores, diretores gerais, oficiais da armada e do exército e enfim outras categorizadas personalidades, quer do mundo oficial, quer das letras, das artes, do comércio, da indústria e da agricultura. […]
Decorada com bandeiras, sanefas de veludo e de damasco, palmas, profusão de plantas e de arbustos, iluminada por fiadas de lâmpadas com as cores nacionais e literalmente cheias de uma multidão que se compunha de mais de 2000 pessoas, as suas galerias construídas para o efeito, os intervalos das máquinas, as próprias máquinas, as bancadas das janelas, todos os espaços, enfim, disponíveis, que comportavam gente, o aspeto da grande oficina era verdadeiramente majestoso. Em baixo, entre as duas ordens de colunas centrais que sustentavam o vigamento superior, sentavam-se às mesas, paralelas, ao longo do pavimento, perto de duzentas crianças, num chilrear encantador, muito apreciável para o sentimento dos pais e mesmo para quem não possui essa dita. Sobre as mesas que flores e cristais matizam, todo um abundante serviço, fornecido pela pastelaria Marques, de sanduíches, croquetes, rissóis, bolos, ananás, rebuçados, pastilhas, bombons, um mundo infinito de guloseimas e, em vez do presente de há dois anos — uma caixa de bombons, a comissão das festas, ainda por sorteio, fizera distribuir a cada um dos pequeninos convivas, um brinquedo adquirido na Quermesse de Paris, que, deve dizer-se os engodara e surpreendera muito mais […].
Em um dos extremos da vasta sala erguia-se, sobre lanças, um dossel de damasco vermelho, sobre o qual se abrigava um grande busto da República, ressaltando da bandeira nacional que lhe servia de fundo.
[…] o Sr. presidente da república ergue-se para falar. Frisa S. Ex.ª que fora o seu primeiro ato, como chefe do governo provisório, mandar publicar um suplemento ao Diário do Governo, comunicando à população os nomes dos homens que compunham o governo, e que estava restabelecida a ordem. Desta maneira a Imprensa Nacional cooperara na pacificação dos ânimos […].
Na sua letra ainda firme e aprumada o Sr. Dr. Teófilo Braga escreveu [no livro de ouro da Imprensa Nacional]: ‘Na festa comemorativa do quinto aniversário da República, celebrada hoje na Imprensa Nacional, recordo a ação pacificadora que o suplemento do Diário do Governo aqui impresso no dia 5 de outubro de 1910, levou ao país, noticiando a tranquilidade, dando por finda a revolução e o nome dos homens do governo provisório. Foi o Fiat pax deste estabelecimento em que tanto se revela a inteligente ação do republicano Luís Derouet.’ […].»