A revista O Arqueólogo Português, fundada em 1895 por José Leite de Vasconcelos, constitui-se como uma obra de referência na área da Arqueologia Portuguesa sendo, em Portugal, a mais antiga publicação periódica sobre a temática.
Na atualidade, e decorrendo de uma parceria entre a Imprensa Nacional e o Museu Nacional de Arqueologia, a revista, de periodicidade anual, é uma obra de cariz científico e multidisciplinar, onde são apresentados ensaios de reputados autores nacionais e estrangeiros.
Ao longo das últimas semanas, a Imprensa Nacional e Museu Nacional de Arqueologia têm vindo a disponibilizar online gratuitamente alguns números desta revista editada em parceria.
Esta semana fica disponível o Suplemento n.º 7, um número especial dedicado à correspondência entre José Leite de Vasconcelos e Orlando Ribeiro. O volume, publicado em 2011, é da responsabilidade de Suzanne Daveau, Maria Fernanda Alegria e João Garcia.
Leite de Vasconcelos e Orlando Ribeiro. Encontros Epistolares (1931-1941). Suplemento n.º 7 de O Arqueólogo Português disponível aqui
Neste volume dá-se testemunho do encanto do mestre em relação ao discípulo. Tão parco como era em elogios sociais, frívolos as mais das vezes como sabemos, Leite de Vasconcelos não hesitava já em 1934 em dizer que «Orlando Ribeiro possui não vulgar inteligência… Anima o superior respeito da Ciência, que procura acompanhar com a maior solicitude, para o que anda por bibliotecas de dia e de noite… Poucas vezes tenho encontrado na vida literária ou pedagógica rapaz tão aplicado, tão brioso, e que tanto a sério tome o estudo». Quanto à afeição leiteana de Orlando Ribeiro, essa então exala em quase todos os seus escritos, como de há muito é sabido, e tem também ampla demonstração no conjunto epistolar ora publicado. Nele se percebe bem a dimensão humana global que faz a relação entre discípulo e mestre, conforme acima procurámos evidenciar, a qual está muito para além do reconhecimento pelo ensino deste ou daquele saber, pelo agradecimento da sugestão deste ou daquele percurso de investigação.
Existem talvez duas passagens dos escritos de Orlando Ribeiro, que resumem o que queremos significar. Numa, publicada no chamado Livro do Centenário dedicado a Leite de Vasconcelos, Orlando Ribeiro afirma: «Com Leite de Vasconcelos extinguiu-se entre nós certa espécie de homens de saber, produto em larga parte de um ambiente de tranquilidade e de amadurecimento intelectual que os nossos dias não voltarão a conhecer.» Ou seja, o mestre corporiza todo um mundo de referências civilizacionais que o discípulo entende celebrar e olha até com certa nostalgia. Noutra passagem, reproduzida em carta neste volume, datada de 1937, Orlando Ribeiro dirige-se ao mestre, dizendo-lhe entusiasmado: «Comprei uma máquina fotográfica ‘Leica’ que me custou chorudos 1.800 (um conto e oitocentos e não 18 tostões !) mas que faz tudo o que é preciso… um traste indispensável que fica, incondicionalmente, ao seu dispor nas excursões que fizermos juntos.» Ou seja, a partilha em nome de objectivos comuns constitui o primeiro impulso do discípulo. Afinal a relação entre Mestre e Discípulo é antes de tudo uma relação de dedicação e crescimento comum e é disso que se dá conta neste cativante volume, feito com o saber e sobretudo com o desvelo que nele colocaram os autores, Suzanne Daveau, Maria Fernanda Alegria e João Garcia, a quem cumpre agradecer e felicitar.
Luís Raposo in «Nota de Abertura»
Boas leituras!