Tenho tido a sorte de envelhecer. Costuma — não em todos os casos, é certo, mas em quase todos — ser acompanhada esta mudança de estado por algum amadurecimento. E acho que posso dizer que, mesmo continuando a usar sapatilhas em eventos que talvez obrigassem a mais solenidade, tenho tido a sorte de amadurecer.
Por isso mesmo, já não me preocupo com o cuidado que se deve ter ao falar em causa própria. Preocupo-me em falar cuidadosamente, sim. Mas a montante costumava estar uma preocupação maior, aquela que dizia respeito à forma como o leitor iria ler não só o texto como o autor. Ou, no caso, a mim. Leitor, meu caro leitor, faça o favor de me ler como entender.
Este preâmbulo de análise psicanalítica corre por causa da coleção «Plural». Foi ela que me trouxe à Imprensa Nacional, foi ela que me trouxe a esta Edição Nacional. Mas também foi ela quem me trouxe muito do que editei em anos e anos nas Quasi. Explico.
A Plural, fundada por Vasco Graça Moura, implicava a edição de novos escritores. A Plural, por ele pensada, tinha no nome o mesmo que continuo a acreditar: dar voz a muitos, mesmo que diferentes. Ou, melhor, exatamente por serem diferentes. Foi isso que levei para as Quasi, e é isso que tento que se mantenha aqui, seguindo os preceitos do fundador.
A poesia é só uma, escreveu Cabral do Nascimento. Os Cadernos de Poesia pegaram nessa frase e fizeram-na lema de uma revista. Graça Moura pegou no conceito e criou uma coleção. Plural. E o nome diz tudo.
Começámos pelos vencedores — primeiro prémio e menção honrosa — do prémio homónimo, José Gardeazabal e Alexandre Sarrazola. Editámos agora Mário Dionísio. Nos próximos meses, serão publicadas obras de Eucanaã Ferraz, Vasco Gato, Rui Lage e J. H. Santos Barros. Três gerações, para começo de conversa. Se aqui somarmos Mário Dionísio, serão mesmo quatro. Têm mais de diferente na aproximação ao texto poético do que de semelhante. O cuidado quase estrutural de Eucanaã ou o discurso longo de Santos Barros. Um poeta de agora, outro que morreu no início dos anos 80. E, no entanto, como ficam bem na mesma coleção.
Os livros estão aí. E aí vão estar os que referi. Com as mãos sapientes do André Letria a abraçá-los. Para os olhos sensíveis de quem os quiser ler.
Coleção «Plural». Design de André Letria.
JÁ PUBLICADOS:
José Gardeazabal
História do século vinte
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Março de 2016
250 páginas
ISBN 978-972-27-2412-8
Alexandre Sarrazola
Fade Out
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Março de 2016
80 páginas
ISBN 978-972-27-2414-2
Mário Dionísio
Poesia Completa
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Junho de 2016
592 páginas
ISBN 978-972-27-2450-0
NO PRELO:
Eucanaã Ferraz
Poesia (1990-2016)
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Setembro de 2016
Vasco Gato
Contra Mim Falo
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
Rui Lage
Estrada Nacional
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda
J. H. Santos Barros
Poesia Completa
Coleção «PLURAL»
Imprensa Nacional-Casa da Moeda