
Antonio Carlos Secchin, poeta, ensaísta e um dos imortais da Academia Brasileira de Letras foi o convidado de Luís Caetano, em A Ronda da Noite, a propósito do livro Desdizer que acabou de ser publicado na coleção «Plural» da Imprensa Nacional.
(…)
Luís Caetano — (…) Há também «Aforismos» neste livro e um desses aforismos diz‑nos que «No Romantismo, talvez a biografia de um poeta se componha da soma de seus versos e da multiplicação de seus sonhos». E neste século XXI em que vivemos, nesta pós-modernidade, de que se faz a biografia de um poeta? De que se faz a sua biografia?
Antonio Carlos Secchin — Eu creio que se faz ainda dos sonhos que o poeta tenta multiplicar e dos pesadelos que ele tem de compartilhar com os outros.
Luís Caetano — Então, não mudou muito desde o Romantismo?
Antonio Carlos Secchin — Creio que não. Acho que essa insuficiência do real é o grande alimento, o grande pão, do poeta. É a sua vontade de chegar ao impossível. [O poeta] sabe que não chega lá mas tem de se empenhar com todo o entusiasmo, com toda a sua força. Para que serve a Poesia, entre outras coisas que se lhe atribuem sentido, senão para essa busca interessante de alargar a visão do homem, de alargar o sentido das palavras para além de onde o bom senso quer que elas parem?
(…)
Luís Caetano — Quando escreve pensa mais no leitor ou é o autor o principal destinatário do que está a escrever?
Antonio Carlos Secchin — Essa é uma ótima pergunta! Eu penso no leitor, desde que o leitor seja eu. (…) Não quero fazer uma coisa que seja maçante, que seja presunçosa, que seja extremamente hermética. Então, se quero ter aquele prazer do eu como leitor coloco-me naquele lugar para me agradar daquele lugar (…). Acho que o leitor é tudo. Cada um que escreve, no fundo, visualiza o seu leitor ideal (…).
Para ouvir na íntegra:
Parte 1, transmitida a 11 de junho de 2018
Parte 2, transmitida a 13 de junho de 2018

A Ronda da Noite, um programa de Luís Caetano, recebe e divulga escritores, artistas, gente com conhecimento e imaginação, autores de exceção. Mostra o novo mas também recupera memórias e momentos, e sai do estúdio para palcos de criação e fruição. Antes do dia acabar, a rádio tem ideias para discutir e histórias para contar. Como num quadro de Rembrandt.
De 2.ª a 5.ª entre as 23h e a meia-noite na Antena 2, RTP