Acolher, de forma criteriosa, um conjunto alargado de textos nucleares da Literatura Portuguesa, enquadrados do ponto de vista editorial por elementos que ajudam a leitura, é o propósito da coleção «Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa» (BFLP), publicada pela Imprensa Nacional, desde 2014.
A BFLP procura colmatar lacunas que atingem sobretudo a produção literária de escritores do passado, mas vai além disso: procura constituir um elenco de obras e autores com significado patrimonial, reafirmando, no seu conjunto, a relevância literária e social daquelas obras e daqueles autores.
Com preços bastante acessíveis (dos 7 euros aos 13 euros) , já saíram nesta coleção os seguintes títulos:
Vinte Horas de Liteira, de Camilo Castelo Branco;
Camões, de Almeida Garrett;
As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis
História de Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro
Obras Poéticas Marquesa de Alorna, de Marquesa da Alorna
Cânticos do Realismo. O Livro de Cesário Verde, de Cesário Verde
A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós
Clepsidra, de Camilo Pessanha
Coordenada pelo académico Carlos Reis esta coleção conta com textos introdutórios de grandes especialistas nas obras publicadas. Em entrevista ao PRELO, Carlos Reis resumiu os objetivos desta biblioteca nos seguintes termos:
Foi uma ideia que me foi proposta e que desenvolvi com muito gosto, cujo título fala por si. No sentido em que nós podemos olhar para a literatura portuguesa como um corpus muito alargado, mas nesse corpus muito alargado, tal como na literatura espanhola, francesa, italiana ou inglesa há autores a quem nós chamamos de autores do cânone e outros que não o são. Pode ser muito discutível quais são os autores do cânone, mas há coincidências e convergências. Facilmente, concordamos que Camões, Garrett, Eça, Camilo, Pessoa são autores fundamentais. Mas também são fundamentais autores de segunda linha, vamos-lhe chamar assim, que nem sempre estão disponíveis no mercado. Posso dar um exemplo As Memórias dum Doido, de António Pedro Lopes de Mendonça. Poderia dar outros exemplos. São autores que são fundamentais para entendermos a nossa identidade e que, muitas vezes, as editoras comerciais não têm possibilidade de editar. Julgo que foi com esse espírito que a Imprensa Nacional decidiu que era seu dever institucional facultar a um público mais alargado edições relativamente simples, rigorosas quanto aos textos, com instruções de tipo pedagógico, sem aparato erudito de notas e a preços acessíveis. Trazer para o público, por exemplo, a poesia da Marquesa de Alorna, uma autora fundamental na passagem do século XVIII para o século XIX, mas que muitas vezes não se encontra no nosso mercado.