Vasco Rosa fala sobre IMPRIMERE, Arte e Processo nos 250 da Imprensa Nacional no Observador.
Ainda que formalmente os 250 anos da Impressão Régia — Imprensa Nacional desde 1833 — só se cumpram a 24 de Dezembro e sejam celebrados com um programa de comemorações ainda por anunciar, um ensaio ou um primeiro pontapé de saída foi já dado em Matosinhos, com a exposição de que este belíssimo e histórico álbum ficará por muitos anos adiante, não apenas como memória perene mas também como objecto de excelência estética — aliás, tem tudo para vir a ser premiado internacionalmente como obra de design, o que seria a cereja sobre o bolo desta vetusta efeméride (o grafismo é do atelier Degrau e as fotografias são de Luís Espinheira).
Quando dirigiu a editora do Estado (1979-89), Vasco Graça Moura usou em muita da sua publicidade institucional o enunciado do alvará de criação da Impressão Régia que lhe impunha fosse exemplo e modelo para o país. Acredito que lhe agradaria muito folhear este “Imprimere”. Arte e processo nos 250 anos da Imprensa Nacional, que começa com o exuberante e inesperado prelúdio de oito fotografias de dupla página com sobreimpressão a prata mostrando-nos chumbo, tinta, réguas, caixas de tipo, teclados e um bloco pronto para entrar na máquina, antes dos habituais discursos protocolares mas sobretudo antes dos primeiros ensaios de boa e indispensável contextualização histórica: “Indústria, arte e cultura. 250 anos da Imprensa Nacional” de Maria Inês Queiroz e Inês José, da Universidade Nova de Lisboa; e “Prova de impressão. Notas sobre design e artes gráficas em Portugal: 1489-1914” de José Bártolo, da Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos.
Em primeiro lugar, pelo reconhecimento de que o trabalho bem feito e exemplar continua a preserverar sob a chancela da Imprensa, mantendo-se bem vivo o tal desígnio pombalino. Em segundo lugar, por ver que esta importante efeméride não quer ser um empreendimento autocentrado mas um lúcido diálogo com novos e emergentes museus de arte e escolas técnicas, ajudando a contrabalançar “a ausência de livros disponíveis sobre técnicas das artes gráficas no nosso país nas últimas décadas” (Dias e Meira, p. 7) e a perda definitiva — para o actual quadro de ensino artístico, não técnico — da sua “missão como escola gráfica de grande projecção no país”, estatutariamente reafirmada em 1953. E em terceiro lugar, porque o livro‑catálogo resultou realmente muito bem, sendo motivo de orgulho para uma instituição que notoriamente chamou a si a colaboração de designers portugueses de primeiro plano que está a proporcionar-lhe um novo patamar de actuação pública, bem “virada para o futuro”, como fez questão de salientar o actual director, Duarte Azinheira, numa entrevista muito recente.
Progressos, desvios ou quebras são inevitáveis numa história acumulada de séculos: a inicial dependência financeira do exclusivo da indústria das cartas de jogar; a vocação, declínio, ressurgimento e fecho da escola artística e técnica associada à fábrica; o começo e o fim de ciclos tecnológicos, determinando por exemplo o encerramento da fundição de tipos, prestigiada e rendosa, ou das oficinas tipo- e litográfica; mas também a contratação de mestres nacionais e estrangeiros, as persistentes e por vezes longas visitas de estudo e actualização técnica a instituições congéneres europeias, a incorporação da Casa Literária do Arco do Cego, o prémio de algumas das suas produções em feiras internacionais e universais ou a aquisição de maquinaria de última geração (como os primeiros prelos metálicos em 1808, p. 25; as fundidoras Foucher em 1869, cit. p. 86, ou a Linotype 4 em 1912, p. 16).
In Observador.
Para na íntegra aqui.
Resulta da exposição homónima apresentada na Casa do Design, em Matosinhos, que se encontra patente ao público até ao próximo dia 3 de novembro.
Aproveitando a ocasião dos 250 anos da Imprensa Nacional, a assinalar em 24 de dezembro de 2018, esta obra é dedicada aos processos artísticos e produtivos das artes gráficas, situando a sua evolução na história geral das artes gráficas em Portugal e na história da Imprensa Nacional, em particular, observando as diferentes técnicas aqui desenvolvidas.
O volume apresenta assim um conjunto amplamente ilustrado de equipamentos, instrumentos, materiais e memórias profissionais que evidenciam a história da indústria gráfica no nosso país, compreendendo também o seu valor nas práticas e na formação atual, nomeadamente nas áreas de ensino do Design.
Vasco Rosa nasceu em Lisboa em junho de 1958. Foi secretário de redação de Raiz & Utopia (dir. Helena Vaz da Silva), Análise (dir. Fernando Gil) e Enciclopédia Einaudi. Foi também editor de O Independente e diretor editorial das Edições Cosmos. Colaborou e colabora com publicações literárias e culturais como Colóquio Letras, Ler, Pessoa Plural, Suroeste e O Tripeiro. Organizou uma dezena de livros de autores como Maria Filomena Mónica, Miguel Esteves Cardoso, Alexandre O’Neill, José Cutileiro, José Cardoso Pires, Rui Henriques Coimbra, Victor Cunha Rego e José Cutileiro. Pesquisou, entre outros, sobre Amadeo de Souza-Cardoso, António Dacosta e Joaquim Novais Teixeira. Colabora desde junho de 2014 com o jornal Observador.