Faz agora meio século que este livro nasceu e foi crescendo ao ritmo generoso das reedições, suportando airosamente os desgastes do tempo. Chamava-se Sardinhas e Lua nas suas origens — 1964 — e reapareceu a partir de 1973 com o título definitivo.
Era já um grosso volume quando, em 1995, resolvi dar às suas numerosas histórias uma arrumação que respeitasse a sequência em que tinham aparecido, enquadrando-as nas estações da minha própria vida. Por isso, os contos publicados na juventude constituem Os Putos da Primavera, os da idade madura compõem Os Putos do Verão, os da barbicha a agrisalhar correspondem a Os Putos do Outono, enfim, os da velhice são naturalmente Os Putos do Inverno.
Há n’Os Putos tanto de mim que, se quisesse autobiografar-me, o primeiro dos seus 153 contos, escrito quando moço, era um excelente começo, enquanto o último, escrito já na velhice, seria o epílogo perfeito.
Fez-me bem escrever este livro, conto a conto, na incerta caminhada entre o berço e o túmulo, porque dei por mim a sublimar, pelo ato transfigurador da criação literária, dificuldades de sobrevivência e fastios existenciais que, de contrário, exigiriam um estoicismo superior àquilo de que sou capaz para serem toleráveis. Na verdade, embora desejando que Os Putos fizessem doer a consciência tão cruelmente como os vivi, quis também que arrebatassem a imaginação tão magicamente como os sonhei. O facto de continuarem a ser lidos, meio século decorrido, permite concluir que da semente dos meus propósitos germinou boa árvore.
Altino do Tojal,
sinopse escrita para a contracapa
Nascido em Braga, em 1939, Altino do Tojal é autor de contos, novelas e romances inseridos no que se pode designar uma corrente de realismo mágico, dos quais se destaca Os Putos (1973), chamado inicialmente Sardinhas e Lua (1964). Os Putos, acrescido de novos contos de edição para edição, é considerado
por Óscar Lopes (in História da Literatura Portuguesa) como contendo «alguns dos melhores contos contemporâneos da infância e adolescência pobres» e foi adaptado ao teatro, à televisão, à rádio e à banda desenhada. O romance O Oráculo de Jamais (1979) seria por seu turno saudado por Urbano Tavares Rodrigues
como «uma das grandes e raras obras universais da nossa literatura». Histórias de Macau (1987) é produto de uma digressão do autor pelo Oriente, enquanto Ruínas e Gente (1991) se refere a uma viagem que empreendeu pelas antigas culturas mediterrânicas, nomeadamente à Grécia e ao Egito.
In Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado
pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, vol. VI,
Mem Martins, Publicações Europa-América, 2001,
pp. 591-592.