O teatro em Portugal tem um longo passado, rico em factos e personalidades, cuja memória importa recuperar, preservar e divulgar. Da última destas três vertentes se ocupará esta coleção de biografias, destinada a um público alargado que se interessa por aspetos vários da história do espetáculo teatral. São assim apresentados atores, atrizes, encenadores, companhias, diretores de cena, cenógrafos, empresários, dramaturgos, compositores — enfim, muitos dos profissionais que se distinguiram não só no palco mas também na sociedade portuguesa dos séculos XIX e XX. Nestas biografias, teremos oportunidade de conviver com percursos teatrais, mas também pessoais, aos quais não é alheia a petite histoire em que o mundo artístico é particularmente fértil.
O sétimo volume desta coleção é dedicado a Francisco Palha (1827-1890), o principal promotor da construção do Teatro da Trindade, de Lisboa, e o seu primeiro empresário. Apesar da reconhecida importância deste seu empreendimento, que em 2017 celebrou 150 anos de existência, houve todo um percurso anterior, até agora esquecido, e que explica o sucesso então alcançado com aquela nova sala de teatro. Com uma abordagem arguta e uma escrita marcadamente pessoal, Levi Martins surpreende-nos pela forma desafiadora como percorre as sucessivas etapas de vida de uma personalidade que, desde cedo, se envolveu nas lides teatrais. A participação de Francisco Palha no Teatro Académico enquanto estudante da Faculdade de Direito, em Coimbra, revelou-se crucial para o desenvolvimento da sua vertente de dramaturgo. A sua formação jurídica e, mais tarde, o lugar que ocupou na Direção-Geral de Instrução Pública bem como as funções que exerceu como comissário régio do Teatro Nacional D. Maria II explicam a preparação que evidenciou enquanto empresário e que se encontra bem documentada nesta obra.
Francisco Palha (1827-1890), dramaturgo e empresário, é a personalidade a que Levi Martins se dedica nesta biografia, apresentando-nos um profissional exímio em vários domínios da atividade teatral, com uma «singular capacidade de conciliar a gestão com a sensibilidade artística, a lei com a cultura, a influência política com a capacidade de criar uma relação com o público». Foi, desde sempre, sua preocupação compaginar as tendências do «gosto público» e a preservação da «nobreza da arte», um difícil equilíbrio que ainda hoje se afigura como um desafio para os criadores. A forma intimista como o autor nos aproxima da vida do biografado e o tom pessoal da sua escrita fazem desta leitura uma agradável descoberta de um homem de teatro, cujo discreto lugar na nossa memória coletiva não corresponde, de todo, à real importância das suas ações.
Levi Martins é licenciado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema e mestre em Estudos de Teatro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem tido uma experiência diversificada nas áreas do cinema e audiovisual, música e teatro, tendo já trabalhado como assistente de realização, diretor de som, montador, intérprete, assessor de comunicação, realizador, encenador e produtor. Foi um dos fundadores da Companhia Mascarenhas-Martins, estrutura que dirige desde 2015.