Escrito em três versões sucessivas, a última em 1880, O Crime do Padre Amaro, com o subtítulo Cenas da Vida Devota, é um dos grandes romances da literatura portuguesa e um dos romances queirosianos mais difundidos mundo fora. Está agora publicado, sob a coordenação de Carlos Reis, na coleção «Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa», chancela Imprensa Nacional.
Constituindo o primeiro grande título da bibliografia queirosiana, O Crime do Padre Amaro foi também um dos mais polémicos e controversos romances do seu autor, e, logo no seu tempo, suscitou leituras muito desiguais.
No quadro do realismo e do naturalismo então dominantes, ao relatar o romance proibido entre um recém ordenado padre que acaba de chegar a Leiria — Amaro — e a filha da dona da hospedaria que o recebe — Amélia, Eça aborda temas e analisa criticamente instituições que favoreciam a controvérsia e quase o escândalo: a vida sacerdotal, a educação religiosa e a Igreja Católica.
N’O Crime do Padre Amaro, a centralidade das personagens é a das teses que elas ilustram. Por outras palavras: o romance não é apenas protagonizado por um padre jovem e por uma devota quase fanática; ele gira em torno do sacerdócio sem vocação, da devoção feminina e da educação religiosa, temas que transcendem as personagens Amaro e Amélia, uma vez que logo n’As Farpas (e naturalmente noutro registo) eles ocupavam já a atenção de quem, respeitando a instituição Igreja Católica, verberava os seus desvios e perversões. Por alguma razão, no capítulo xxıı, é o virtuoso abade Ferrão quem responde a Amélia, quando esta acusa João Eduardo de «impiedade», por ter escrito um artigo muito crítico contra o clero de Leiria: «O rapaz não escreveu contra os sacerdotes, escreveu contra os fariseus!»
Carlos Reis, in «Introdução»
Eça de Queirós
Eça de Queirós nasceu a 25 de novembro de 1845. Na sequência da sua formação académica, integrou a chamada Geração de 70. A partir daí, Eça compôs uma ampla obra ficcional, ensaística e cronística, cujos títulos iniciais (O Primo Basílio, de 1878, e O Crime do Padre Amaro, de 1880) abriram caminho a um expressivo processo crítico da sociedade portuguesa, dos seus costumes e dos seus tipos sociais. Nesse contexto, a temática religiosa ocupa um lugar de grande destaque, como se vê no romance que agora se publica, bem como n’A Relíquia (1887). O romance Os Maias (1888) é considerado o título cimeiro da produção queirosiana. Outros títulos, alguns de edição póstuma: O Mistério da Estrada de Sintra (1870; com Ramalho Ortigão), O Mandarim (1880), A Correspondência de Fradique Mendes (1900), A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade e as Serras (1901), Contos (1902), Prosas Bárbaras (1903), A Capital! (1925), O Conde de Abranhos (1925) e Alves & Cª (1925).
Carlos Reis
Carlos Reis é professor jubilado da Faculdade de Letras de Coimbra, onde lecionou Literatura Portuguesa (séculos xıx e xx), Estudos Queirosianos, Teoria da Literatura e Literatura Espanhola. Foi professor visitante em universidades do Brasil, de Espanha e dos Estados Unidos. Além de autor de vasta obra de temática queirosiana, é coordenador da coleção «Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós».
Mais detalhes sobre este título Aqui
Este título conhece uma versão digital gratuita que está disponível Aqui