Depois de publicar O Essencial sobre o Teatro Luso-Brasileiro, O Essencial sobre Jaime Salazar Sampaio e O Essencial sobre o Tema da Índia no Teatro Português, Duarte Ivo Cruz — docente e investigador português em temas sobre a história do teatro — acaba de publicar, com a Imprensa Nacional, O Essencial sobre o Teatro de Henrique Lopes de Mendonça.
Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931) é o autor do poema porventura mais vezes decorado e entoado pelos portugueses — talvez até o único poema que todos sabemos de cor. Trata-se, claro, de A Portuguesa, poema adotado como Hino Nacional em 1911. Mas Henrique Lopes de Mendonça foi também um dramaturgo assíduo.
Entre peças em coautoria, revistas, textos de opereta, libretos de ópera, traduções, adaptações, monólogos, grandes dramas, comédias em prosa e em verso, temas históricos ou de atualidade, neorromânticos ou pro‑realistas, Henrique Lopes de Mendonça conta com mais de 30 peças, umas publicadas outras não. É sobre esta grande legado que Henrique Lopes de Mendonça nos deixou que trata este livro.
Publicamos aqui os parágrafos inaugurais deste livro:
«Os dramaturgos da transição do século XIX para o século XX sofrem a influência e refletem a conjuntura política e de mentalidade estética da época em que viveram e escreveram: aliás, nisso não há nada de novo, com as exceções de alguns criadores e percursores visionários das artes e das ideias. O que em rigor não é o caso. Mas a conjuntura
nacional, no que se refere aos dramaturgos portugueses da época, surge marcada por sinais e coordenadas concretas que indiscutivelmente os influenciam, e para lá das diferenças e das expressões próprias da criação, os relaciona na estética, na ideologia e no conteúdo.
Em primeiro lugar, a própria transição dramatúrgica, ainda muito influenciada pelo ultrarromantismo, designadamente no temário histórico e na adoção do texto versificado, mas também do realismo‑naturalismo e da análise, cada vez mais crua e direta, dos temas sociais, económicos e políticos ‘de atualidade’. Em segundo lugar, a conjuntura nacional: progressivo avanço do ideal republicano, questionamento das instituições, patriotismo e nacionalismo, designadamente exacerbado pelo trauma do Ultimato Inglês e, ligado a esse quadro, a expansão e colonização de África e as grandes comemorações das datas e vultos históricos — Camões, Vasco da Gama e viagem para a Índia, mas sintomaticamente menos, Pedro Alvares Cabral e a descoberta do Brasil. E, finalmente, o grande momento cénico e profissional da atividade teatral, servida e alimentada por uma geração de atores de primeira qualidade, por companhias mais ou menos estáveis e por prestígio junto do público.
Pode assim falar‑se de um grupo de dramaturgos profissionais, mesmo quando obviamente exerciam outras atividades na sociedade civil ou militar. Precisamente, Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931) é Oficial da Armada. Mas o seu caso mais se singulariza. Se é certo que a prática das coisas do mar, de que aliás se retirou relativamente cedo — Guarda‑Marinha em 1871, reforma‑se como Capitão‑de‑Mar‑e‑Guerra em 1912 —, se traduz, como veremos, no temário e na técnica dramatúrgica de diversas peças, a carreira em África não se reflete tanto e tantas vezes no teatro como em outros dramaturgos que nunca lá estiveram…
Mas, em contrapartida, estamos perante um cientista da História e da técnica de navegação. Estamos perante um historiador da Idade Média mas sobretudo da Expansão. E estamos perante um romancista de enorme colorido, fiel, aqui também, ao substrato temático e ao rigor histórico, insista‑se, da sua obra ficcional. (…)»
Duarte Ivo Cruz, O Essencial sobre o Teatro de Henrique Lopes de Mendonça. pp. 7, 8 e 9.
Sinopse da obra:
A qualidade e heterogeneidade da obra dramática de Henrique Lopes de Mendonça constitui modelo de renovação, no contexto, tão denso e válido da sua obra literária e dramatúrgica em si mesma, como expressão cultural e ideológica que marca em termos genéricos toda a criatividade do teatro português na transição do século.
E esta apreciação envolve tanto as peças de tema histórico como as peças de expressão contemporânea, e tanto os dramas como as comédias, cobrindo de forma exemplar a transição temática, estilística e epocal do teatro como arte heterogénea, literária sem dúvida, mas sobretudo arte de espetáculo.
E daí, a modernidade desta dramaturgia e a conciliação da expressão literária com a expressão cénica e espetacular, usando aqui o termo na sua total abrangência.
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