
«Numa época em que Lisboa assume a sua vocação cosmopolita, nomeadamente em virtude de um renovado interesse enquanto destino turístico mas não só, a exposição ‘A cidade global’, no Museu Nacional de Arte Antiga, representa tanto a recordação das glórias do século XVI como a celebração da nova dinâmica cultural. Com uma polémica à mistura que trouxe os historiadores para a discussão e só aumentou o interesse.»
A Cidade Global. Lisboa no Renascimento é o catálogo da exposição do mesmo nome que inaugurou no Museu Nacional de Arte Antiga no dia 24 de fevereiro de 2017.

Fotografia: Sapo 24
O ponto de partida: um díptico até há pouco tempo atribuído ao pintor espanhol Diego Velasquez, representando com grande detalhe uma cena de quotidiano numa cidade renascentista extremamente cosmopolita.
«Em 1503 deu-se a famosa mudança de D. Manuel do Paço no castelo de S. Jorge para o Paço da Ribeira, abandonando o imperativo de defesa medieval pela necessidade de controlar o comércio florescente. Já no reinado do seu filho, D. João III, Lisboa sofreu um terramoto tão devastador como o de 1775. Foi em 1531, e os relatos falam de extensa destruição e o número impressionante de 30 mil mortos. É a Rua dos Mercadores reconstruída depois dessa catástrofe esquecida que este quadro mostra.»
A obra captou a atenção de duas investigadoras, que a estudaram aturadamente, acabando por lhe atribuir autoria diferente, e por concluir tratar-se de uma representação de uma rua de Lisboa entretanto desaparecida com o terramoto de 1755 – a Rua Nova dos Mercadores, construída no período manuelino segundo critérios urbanísticos invulgarmente modernos para a época, com a finalidade de ser o centro nevrálgico da atividade comercial da cidade.
A este díptico, o Museu Nacional de Arte Antiga juntou uma outra pintura do mesmo período e do mesmo género que representa a vida urbana em torno do chafariz d’el Rei, para montar uma exposição, que reúne um conjunto de cerca de duas centenas e meia de documentos e objetos de maiores e menores dimensões, relacionado direta ou indiretamente com os quadros.
Daqui nasce o catálogo, que acrescenta à exposição a fundamentação teórica e científica da leitura fundamentada que ali se faz da Cidade Global que terá sido a Lisboa renascentista.
RAS