por Tânia Pinto Ribeiro
Em 1999, a UNESCO proclamava em Paris a decisão de celebrar o dia 21 de março como Dia Mundial da Poesia. Ontem, tal como hoje, a UNESCO reconhece que a poesia é um valor e um símbolo da criatividade do espírito humano. Na sua mensagem de 2016 a diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, sublinha:
Ao dar uma forma e pôr em palavras aquilo que não tem nem um nem outro — como, por exemplo, a insondável beleza que nos rodeia ou o imenso sofrimento e a miséria que existe no mundo — a poesia contribui para a expansão da humanidade que nos une, ajudando a aumentar a sua força, solidariedade e consciência.
O PRELO não podia deixar de juntar-se aos festejos, e celebra este dia destacando a coleção Plural, uma coleção inteiramente dedicada à poesia e aos poetas. Uma coleção que é ela própria fruto da criação de um grande e já saudoso poeta: Vasco Graça Moura. Quando em 1982 Graça Moura era administrador e responsável pelo pelouro editorial na INCM, cria a Plural dando guarida a obras de novos mas já promissores autores, que tinham nesta coleção a primeira oportunidade de publicação. Entre os títulos publicados encontram-se obras de ficção, ensaio, dramaturgia, artes plásticas, mas sobretudo poesia.
Em 2015, com a criação do Prémio INCM/Vasco Graça Moura, renasce a coleção e é agora desígnio da nova Plural publicar as obras poéticas distinguidas no âmbito do Prémio, mas também outras obras de indubitável qualidade, que não encontraram ainda a justa oportunidade de publicação ou que são de acesso difícil para o público português.
A inaugurar a nova Plural estão as obras premiadas história do século vinte de José Gardeazal e Fade Out de Alexandre Sarrazola (respetivamente, vencedor e menção honrosa do Prémio INCM/VGM 2015) e, para sair em breve, Estrada Nacional do português Rui Lage. Porque não há duas sem três, a juntar à POESIA e à renascida PLURAL festejamos também, em ano de centenário, a Poesia Completa de Mário Dionísio, que será reunida e acolhida também na Plural. Um espaço, tal como a natureza intrínseca do poema, de liberdade, de literatura, de difusão, de pluralidade, de inquietude e questionamento. Em suma, de Primavera — de nascimento e de renovação.
E assim em jeito de presente e pré-publicação ao longo do dia, o PRELO irá publicar alguns poemas selecionados deste autor. Poemas que fazem parte de uma obra poética que, no dizer de Georges Le Gentil, é «daquelas que ultrapassam a introspeção e restabelecem o contacto entre a arte e a vida» e onde podemos encontrar ou reencontrar, ainda nas palavras de Le Gentil, «a mesma angústia e a mesma fé, o sentimento agudo da miséria humana e o grande apelo à fraternidade num mundo em que se desencadeiam as paixões de outra época».
E porque a Poesia não se inventou — apenas — para cantar o Amor, termina-se este texto invocando um prosador maior, talvez o maior: Eça de Queirós, que escrevia assim em A Correspondência de Fradique Mendes:
A poesia não se inventou para cantar o Amor — que de resto não existia ainda quando os primeiros homens cantaram. Ela nasceu com a necessidade de celebrar magnificamente os deuses, e de conservar na memória, pela sedução do ritmo, as leis da tribo. A adoração, ou captação da divindade, e a estabilidade social, eram então os dois altos e únicos cuidados humanos: — e a Poesia tendeu sempre, e tenderá constantemente a resumir, nos conceitos mais puros, mais belos e mais concisos, as ideias que estão interessando e conduzindo os homens.
Haverá elogio maior?
Que a POESIA e os POETAS estejam sempre entre nós!
TPR