Em tempos de incerteza e isolamento convocámos (virtualmente) os nossos poetas e lançámos o desafio: dizer, pela própria voz, a sua própria poesia. Hoje é a vez de Daniel Maia-Pinto Rodrigues dizer os (seus) poemas: «Dióspiro» e «Éramos Novos».
Dióspiro
Depois do almoço
quando arrastamos a cadeira
um pouco para trás
uma sonolência morna
entrelaçada de luz
entra pelas janelas
ludibria as cortinas
e difusa poisa no vinho.
É nessa altura que dizemos:
vou comer este dióspiro
antes que apodreça.
Éramos novos
quando pensávamos
que os anos pouco passavam.
No encantamento das pequenas lonjuras
era fácil resistir ao tempo:
o mínimo gesto, um vestido azul
alguém que passa a laranjada
tinham a luz diáfana da perenidade.
Em nós eternizaram-se as noites
de poucas e muitas palavras nos sofás
eternizou-se o lobisomem do quintal
a luz que ilumina o apaziguamento.
Daniel Maia-Pinto Rodrigues nasceu no Porto em julho de 1960. Turquesa é o seu vigésimo livro.
Turquesa é também a mais recente novidade da coleção «Plural», uma coleção dedicada à poesia em língua portuguesa.
Daniel Maia-Pinto Rodrigues é um poeta idílico e paisagista, conhecedor da luz e das suas gamas, um promotor do espaço, que envaza ou transvaza a energia da calma, capaz de emoldurar o tempo, e é igualmente um poeta de vincada faceta satírica e jocosa, conjugada com aqueles aspetos.
Turquesa de Daniel Maia-Pinto Rodrigues reúne poemas dos livros Vento (1983), Conhecedor de Ventos (1987), A Próxima Cor (1993), O Valete do Sétimo Naipe (1994), A Sorte Favorece os Rapazes (2001), O Afastamento Está Ali Sentado (2002), Malva 62 (2005), Dióspiro (2007), A Casa da Meia Distância (2010) e Já Passei Por Aqui (2015).

Turquesa teve direção literária de Jorge Reis-Sá, capa e design de André Letria. A revisão de texto é de Mário Azevedo.
A paginação, impressão e acabamentos da responsabilidade da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
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