
Se há, em qualquer literatura, uma obra que se aproxime da designação «poema nacional», essa é certamente A Divina Comédia, composto por Dante Alighieri (1265‑1321) nas duas primeiras décadas do século XIV, período durante o qual viveu continuadamente exilado da sua cidade de Florença, da qual fora expulso por razões políticas.
Ao longo dos seus mais de catorze mil versos, agrupados em cem cantos, e escritos em língua vulgar, o poema de Dante («poema sacro… no qual puseram mão o céu e a terra») descreve as jornadas que conduzem o autor até à revelação divina, através das penas do Inferno, dos trabalhos do Purgatório e das beatitudes do Paraíso.
Nascido quarenta anos depois da morte de Francisco de Assis e quinze após o desaparecimento do imperador Frederico II, Dante Alighieri viveu na crista da onda da primeira grande revolução moderna operada em pleno século XIII da nossa era. O seu foi também o século de Giotto e de Tomás de Aquino, de Roger Bacon e de Marco Polo, mas o seu trajeto biográfico entrou bem dentro do século XIV, em cujas duas primeiras décadas, aliás, compôs as três partes d’A Divina Comédia, o poema que o tornou imortal.
Bonifácio VIII tornou-se o seu ódio de estimação: fê-lo figurar logo no Canto VI do Inferno e referi-lo-á por diversas vezes ao longo do Poema. O Papa era cínico, manipulador e voraz, e Dante não hesitará em assacar-lhe as principais responsabilidades pelo descrédito e envilecimento da Igreja.
Situada na Páscoa de 1300, A Divina Comédia – que Dante terminou pouco antes de morrer – marca o início da sua viagem em direção à revelação do amor divino, «o amor que move o Sol e as mais estrelas».