A descoberta recente na Biblioteca do Museu de Arqueologia de Lisboa de um manuscrito único e de relevantíssimo interesse histórico, linguístico e literário sobre Batávia do século XVIII, hoje Jacarta, capital da Indonésia, motivará a publicação pela Imprensa Nacional de um livro – «O Livro de Pantuns de Lisboa» – que inclui o fac-simile do manuscrito, a edição dos poemas e respetiva tradução para português e para inglês e um comentário crítico e histórico.
Esta descoberta, que regista um forte envolvimento da equipa do MNA, volta a chamar a atenção para o relevante acervo do Museu, instituição que guarda documentos únicos, de várias tipologias e naturezas, muitos deles reunidos graças ao labor de José Leite de Vasconcelos que, com um olhar sempre plural, pretendia garantir a mais completa caracterização do «Homem Português» e do seu registo arqueológico e antropológico.
O estudo do documento está a ser efetuado por uma equipa académica internacional. Originalmente constituída por dois investigadores do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, os Professores Ivo Castro e Hugo C. Cardoso, a equipa foi depois alargada a outros especialistas de línguas e literaturas do Sudeste asiático: o Professor Alan Baxter, da Universidade de São José (Macau), o Professor Alexander Adelaar, da Universidade Palacky (Olomouc, República Checa) e Universidade de Melbourne (Austrália), e o Professor Gijs Koster (Universidade do Minho). O Centro de Linguística da Universidade de Lisboa colabora há anos com o Museu Nacional de Arqueologia em ações de tratamento e estudo do arquivo de Leite de Vasconcelos, tendo sido durante uma dessas ações que a descoberta do Livro de Pantuns ocorreu.
Segundo o Professor Ivo Castro, que coordena a equipa de investigação, «este manuscrito parece ser a única fonte escrita contemporânea (século XVII) para um tipo de poesia em malaio e crioulo que era popular em Java. Claro que há recolhas novecentistas dessa literatura e documentação linguística moderna, mas não havia um original do tempo».
Recorde-se que Pantum, que é um poema de origem malaia «composto de quadras com rima cruzada, e caracterizado pela repetição de certos versos e pelo paralelismo de duas ideias centrais», é uma forma de expressão oral tradicional.
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