A Ilha dos Mulatos, do moçambicano Sérgio Raimundo, foi a obra distinguida na 3.ª edição do Prémio INCM/Eugénio Lisboa, e é a mais recente novidade editorial da Imprensa Nacional.
A atribuição do prémio a esta obra ficou a dever-se, no dizer do júri, ao facto de «o autor entrelaçar criatividade e originalidade, com a gestão da polifonia e de fluxos de consciência, numa narração que convoca à preservação da memória sobre a Ilha de Moçambique.».
A Ilha dos Mulatos apresenta-nos a história de uma família luso-descendente, que vive na Ilha de Moçambique, uma ilha em vias de desaparecer. No enredo há mortes e investigação o que aproxima a narrativa a um policial e onde cada personagem é dona da sua própria narração.
A Ilha de Moçambique foi sendo comida pelas águas do mar aos poucos. O silêncio começou a habitar toda a Ilha; já não era uma ilha, mas sim uma ruína de pedras gastas pela água do mar e lapidadas pelas mãos do vento. […] Da porta branca da Fortaleza de São Sebastião restava apenas um pilar que tinha mais ferros que cimento. Era por aquela porta que a água, costurada em tecidos de ondas, se movia sem precisar de chave para entrar. Enquanto entrava podia ouvir-se passos de outra água saindo apressada.
O romance reflete, ao mesmo tempo, a atualidade moçambicana, retratando situações como a homossexualidade, o adultério, os efeitos de algumas doenças incapacitantes e a violência a que estão sujeitas as populações numa alusão aos recentes ataques em Cabo Delgado.
Quanto ao autor, Sérgio Raimundo, nasceu em 1992, em Maputo. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane. Atualmente trabalha como colunista, jornalista, crítico de literatura e cinema. Em 2015, publicou Avental de um poeta doméstico.
De recordar, por fim, que o Prémio INCM/Eugénio Lisboa visa selecionar trabalhos inéditos de grande qualidade no domínio da prosa literária e, além de uma componente pecuniária, contempla a publicação das obras distinguidas em cada edição, incentivando desta forma a criação literária moçambicana.