“Ao Ministro do Reino
Ill.mo e Ex.mo Snr. = Tenho demorado até agora a dar uma conta circunstanciada do roubo feito nesta repartição pelo Fiel Luís do Patrocínio Martins, porque quis fazer com toda a exactidão possível o inventário dos objectos roubados, e ao mesmo tempo quis dar ao Fiador toda a facilidade não só de assistir ao dito inventario, mas de o verificar com os livros da Contadoria, em que tudo anda lançado em dia com a maior exactidão e clareza; o que antes da minha Administração se não costumava fazer. Apesar contudo do que eu já tive a honra de dizer a V. Ex.ª relativo ao procedimento do Fiador José Venâncio Gomes Pereira, começa já estar a respeito dele de uma opinião menos segura porque vejo que o que ele pretende é demorar, sem me dar respostass decisivas. Diz-me sim, que reconhece a divida, mas hesita no modo do pagamento, e do tempo em que o deve fazer. Hoje mesmo que me prometeu vir dar-me a ultima resolução, ainda não apareceu; e eu julgo do meu dever não me demorar mais um instante em enviar a V. Ex.ª o resultado de todo este infeliz negócio. = Pelos Documentos A até C inclusive verá V. Ex.ª as razões e os motivos porque este Fiel foi nomeado ultimamente, tendo já servido nesta Repartição muitos anos antes, desde 1825. E pelos Documentos nº 1, até 6 inclusive, verá igualmente a qualidade e importancia dos roubos, que importam em réis 2:001.383. Em um ofício não posso dar a V. Ex.ª odas as explicações que hajam de ser necessárias para o cabal conhecimento deste negócio; mas quando elas sejam necessárias o Contador desta Repartição, Augusto Zacarias Loforte, as dará com toda a clareza, verdade, e exactidão, porque repito a V. Ex.ª, eu agianço, tanto quanto humanamente se pode afiançar, a probidade, a honra, e inteligencia deste meu empregado que estou certo nunca me há-de trair; nem a V. Ex.ª. Bem que eu não seja competente em negócios jurídicos, aventuro-me contido a lembrar a V. Ex.ª que se lhe parecer, mande consultar sobre este objecto o Procurador da Fazenda para depois, a vista da sua opinião se tomarem as medidas mais convenientes. Para a execução delas, torno a dizer a V. Ex.ª, não far+a falta a minha assistencia, porque estou convencido das qualidades da pessoa que desejo me fique substituindo, e por isso torno a rogar a V. Ex.ª me queira conceder a licença que em oficio de hoje tenho a honra de lhe enviar. A tudo isto acrescento, que se V. Ex.ª não ficar satisfeito com a abonação que eu dou do meu Contador, pode informar-se com o seu colega o Ex.mo Ministro da Fazenda que muito bem o conhece (…) Lisboa e Administração Geral da Imprensa Nacional 26 de Julho de 1838 = Ill.mo e Ex.mo Snr. António Fernando Coelho Secretário de Estado dos Negócios do Reino = José Liberato Freire de Carvalho.” (pp. 49-50)