“Ao Ministro da Fazenda
Ill.mo e Ex.mo Snr. = No meu oficio de 7 do corrente em que tive a honra de enviar a V. Ex.ª a conta da despesa que no mês de Maio proximo passado fez esta oficina com os impressos da Câmara dos Deputados e Tesouro, e conta que importava em 1:292.321 réis disse eu que além desta despesa havia ainda outra não satisfeita, e do mês de Abril, e proveniente de obras semelhantes, a qual importava 1:014.779 réis. Tive então a honra de ponderar a V. Ex.ª que por falta destas pagamentos se achava esta oficina na absoluta impossibilidade de continuar a satisfazer às requisições não só da Camara, mas das Repartições do Governo, porque me acho completamente sem papel, e sem meios de pagar a feria semanal aos operários. V. Ex.ª bem sabe que a Imprensa Nacional não tem outras rendas senão o produto do seu trabalho, e que se este lhe não for pago, não é possivel que satisfaça ao que dela se exige. O Governo e a Camara dos Deputados tem depois de alguns meses sobrecarregado esta oficina com tantas e tão dispendiosas obras, que não só a tem impedido de trabalhar para fora, porem lhe tem consumido todos os seus recursos; e nestas circustancias se o Governo lhe suspender inteiramente os pagamentos não poderá ela ser acusada de não cumprir as ordens que se lhe mandarem. Há poucos dias, verdade é que recebi por conta da despesa dos dois meses antecedentes, eq que acima deixo notada, a quantia de 400 réis. Porem que é isto para quem não tem uma folha de papel, e do qual já deve mais de três contos de reis. Esta pequna quantia apenas chegou para pagar uma feria, e satisfazer ás despesas diárias, e foi como uma gota de água no mar. Nestes termos rogo a V. Ex.ª queira ver se por algum modo pode acudir a esta Repartição mandado-lhe pagar prontamente a despesa dos meses de Abril e Maio, porque entre outras exigências eu já não posso calar os Deputados que altamente se queixam pela falta do Diário das Cortes. Eu porem não posso fazer milagres; porque não tenho papel; cada sessão gasta pelo menos 18 a 20 resmas dele e eu como disse já devo por este artigo mais de três contos de reis. Se V. Ex.ª me permite lembrar-lhe-hei um arbitrio para suprir esta oficina no caso que seja praticável. Consta-me que da Ilha da Madeira chegará uma grande quantidade de bronze, e hoje existente no Arsenal, e que este se destina para a Casa da moeda para ali ser fundido. No caso que ele não seja preciso para obra alguma do governo, eu tenho um negociante de papel que mo recebe em troco, para exportar para a Itália. Assim não se gastará nada com a fundição e o Governo, em vez de dinheiro me dará com que acudir a esta Repartição que está inteiramente sem acção para trabalhar; e no verdadeiro estado de moribundo. Eu não sei, com efeito, se há exactidão no que digo, ou se isto é praticável como tudo o que assevero a V. Ex.ª e que por um modo ou por outro é preciso acudir a esta oficina; o que eu espero que V. Ex.ª fará o mais prontamente que lhe for possível, por que nesta crise o que eu mais estou a recear é alguma trovoada na Camara por causa do Diário apesar que eu faço quanto posso para a desviar ou pelo menos serenar. Deus Guarde a V. Ex.ª. Lisboa Administração Geral da Imprensa Nacional. 14 de Junho de 1837 = Ill.mo e Ex.mo Snr. João de Oliveira Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda = José Liberato Freire de Carvalho.” (pp. 5v. – 7)