“(…) Sobre o assunto da nota nº 530, de 25 do corrente, dessa Direcção Geral, cumpre-me ponderar a V. Ex.ª o seguinte:
Quando propus a confirmação de Vicente Jaime Ramos de Sousa no lugar de contador da Imprensa Nacional, que tem desempenhado desde o licenciamento de António Norberto Monteiro, ignorava em absoluto que estivesse ilibada toda a responsabilidade do restante pessoal da contadoria, porque nenhuma comunicação recebi ainda nesse sentido. Quando, porém, o soubesse ainda assim faria a proposta que fiz ao Ex.mo Ministro do Interior, por intermédio de V. Ex.cia, visto que, tendo o actual 1º escriturário sido nomeado provisoriamente por despacho de 20 de Janeiro de 1911, (art. 33º do regulamento em vigor), não poderá, à face do mesmo regulamento, desempenhar lugar de classe superior sem que tenha, pelo menos, um ano de exercício nesta última (art. 42º), o que se não dá no caso presente.
Estas as razões de ordem legal que me permito apontar a V. Ex.ª e que, estou certo, calarão no seu espírito, mas outras circunstancias de natureza moral há que me levam a insistir junto de V. Ex.cia por que Vicente Jaime Ramos de Sousa seja confirmado no lugar que com tão superior inteligência e rara honestidade tem desempenhado. A desmoralização de costumes na contadoria da Imprensa Nacional atingira, como V. Ex.ª sabe, o máximo grau, tendo sido Vicente Jaime Ramos de Sousa quem, com a sua intransigência de funcionário probo, conseguiu introduzir naquela secção normas novas de moralidade e bons costumes, a ponto de se poder prever para breve uma boa e completa remodelação nos serviços. Ora tirar nesta altura da contadoria o funcionário de mais absoluta confiança que a República ali conta afigura-se im erro, tanto mais que com a sua entrada para o cargo ninguém até hoje se sentiu afectado. Pra esta ponto chamo muito especialemente a atenção de V. Ex.cia, que por certo terá também todo o interesse em ver bem acautelados os interesses do Estado e, na hipótese, que julgo improvável, do Ex.mo Ministro do Interior se não conformar com a proposta que em 16 do corrente tive a honra de enviar a essa Direcção Geral, lembro que, enquanto as conveniências do Estado aconselham a permanencia de Vicente Jaime Ramos de Sousa no lugar de contador, este seja, pelo menos, nomeado em comissão, que findará logo que os serviços da Imprensa Nacional sejam devidamente reorganizados.
Espero que V. Ex.cia submeta o assunto, que é sobremodo delicado, ao Ex.mo Ministro do Interior, na certeza de que, além destas, talvez outras mais razões poderia aduzir em reforço do que propus.

Saude e Fraternidade.

Administração Geral da Imprensa Nacional, 26 de Outubro de 1911.

Ex.mo Sr. Director Geral da Instrução Secundária. Superior e Especial.

O Administrador Geral

Luís Derouet”

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