«Movido de sentimentos iguais aos que me haviam inspirado quando em harmonia com os intuitos elevados do Governo de Sua Majestade, fiz coligir os produtos com que este estabelecimento figurou, não direi brilhante, mas decorosamente, nas exposições universal de Londres em 1862 e internacional do Porto em 1865, aceitei gostoso o convite que me foi dirigido pela grande comissão central preparatória dos trabalhos para a exposição universal que devia inaugurar-se no corrente ano em Paris, convencido também de que procedendo deste modo obedecia às ideias claramente manifestadas a tal respeito pelo próprio governo […].
Guiado por estes princípios, que me têm sido constante norma, entreguei com efeito, em ocasião oportuna, à citada comissão uma copiosa coleção de espécimes, já de impressões, desde as mais comuns até às mais luxuosas, já de litografias, trabalhos de gravura e cobre por procesoss manuais, químicos e mecânicos, diversos ensaios de galvanoplastia, politipagens, alguns instrumentos de precisão, etc., etc., os quais foram competentemente admitidos, e enviados para Paris. […]
É tanto mais urgente definir expressa e terminantemente, de uma vez para sempre, qual a missão que pertence, no lavor da civilização, à Imprensa Nacional, quais os fins que se têm em vista, quais obras hão-de ser-lhe exclusivamente encarregadas, quais a que, sem transtorno, podem ser entregues à indústria particular, quanto é certo que desde alguns anos se tem desenvolvido uma desgraçada tendência para afastar da Imprensa Nacional certos trabalhos. […]
Ainda mais. Não me referindo já à tipografia da Academia Real das Ciências, em algumas repartições têm-se criado, nos últimos anos, com grande dispêndio, oficinas especiais: neste caso estão o Instituto Geográfico (litografia), a Comissão Geológica (litografia); a Alfândega de Lisboa (litografia); a Casa da Moeda e Papel Selado (tipografia e litografia); a Academia Real das Belas Artes de Lisboa (estamparia, litografia, e escola de gravura em madeira!), a Direção Geral dos Telégrafos (litografia), etc., etc.. […]
Urge, pois, se o governo de Sua Majestade tem, como devo supor, o empenho de conservar sob os seus auspícios a Imprensa Nacional de Lisboa, definir e fixar expressamente a sua situação por meio de uma carta orgânica. […]
Só então poderá determinar-se racionalmente o número, categoria, vencimentos e regalias dos empregados da administração central deste estabelecimento, bem como dos empregados e operários das diversas repartições e oficinas que ele abrange, tendo em vista sempre que a Imprensa Nacional de Lisboa, com pertencer ao estado, nem por isso deixa de ter um certo caráter industrial, e sob este aspeto, as suas despesas gerais, entendo eu, devem ser computadas com tal discrição que os respetivos produtos, sem deixarem de ter o cunho de irrepreensível perfeição e regularidade que deve distingui-los, como provindo de um estabelecimento escola e modelo, não atinjam custo sensivelmente superior aos do mercado, o que, pelo menos, atenuraria as vantagens, no meu conceito, indisputáveis da sua conservação.[…]
Os interesses da Imprensa Nacional de Lisboa são, ou devem ser, comuns aos da Imprensa da Universidade de Coimbra, que tem a mesma origem e igual caráter oficial; entretanto, por não estar, talvez, bem definida a esfera de ação e a missão peculiar de cada um destes estabelecimentos, que se conservam imprópria e inconvenientemente, como que estranhos um ao outro, acontece muitas vezes prejudicarem-se mutuamente e do modo mais grave, sem que todavia se possam inculpar as respetivas administrações. […]
Os inconvenientes e absurdos da atual organização da direção do Diário de Lisboa ninguém melhor do que V. Ex.ª os conhece e aprecia; são sentidos por todos, e por todos notada a inutilidade de semelhante direção, que significa em última análise duplicação escusada de serviços, em puro detrimento do tesouro. […]»