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A casa do Alçado que até 1901 era quase exclusivamente destinada à expedição de livros e impressos, aqueles brochados ou encadernados fora da Imprensa, mas por conta da mesma, e de pequenos serviços de costura a arame, picotagem. dobragem e alçado, desempenha hoje além daqueles serviços que tem aumentado consideravelmente, os de expedição e distribuição do Diário do Governo, corte de papel em branco e impresso e o de manufatura de sobrescritos.
O serviço de expedição e distribuição do Diário do Governo passou para a Casa do Alçado e bem assim o pessoal a quem tal serviço estava confiado, por decreto de 24 de dezembro de 1901 que regulamentou os serviços da Imprensa Nacional.
O serviço de corte de papel passou igualmente para a Casa do Alçado em 1903.
Este serviço era feito por oficina própria e que tinha a seu cargo a acetinagem que durante muitos anos foi desempenhada nesta secção sob a direção do respetivo encarregado que ainda atualmente recebe pela folha do Alçado mas presta serviços no Refeitório e Balneário. A oficina de acetinagem e corte de papel foi extinta pelo regulamento vigente.
E finalmente o serviço de manufatura de sobrescritos que deve merecer certamente a atenção de V. Ex. pela sua fonte de receita pois rende líquido 400$00 a 600$00 por mês foi introduzido na Casa do Alçado a título de experiência.
Anteriormente, era este serviço dado a fazer fora e por empreitada e há doze anos passou a ser desempenhado na Casa do Alçado para o que foi adquirida uma máquina balancé para o corte e outra para manufaturar, ambas de pedal e para o movimento dos quais bastavam dois homens.
De então para cá tais serviços têm aumentado de tal maneira que para o seu desempenho existem três manufatores e doze manufatoras não estando porém o pessoal em relação com o número de máquinas existente pois que apenas foram adquiridas mais duas de pedal o que não chega, tornando-se por isso urgente e indispensável a aquisição de uma máquina pelo menos movida a eletricidade e que faça os formatos até o tamanho do L. do nosso mostruário. Mal parece dizer, mas não deve restar dúvidas a tal respeito, que com a aquisição desta máquina não pode ainda a Imprensa competir embora em produção, com alguns estabelecimentos da indústria particular como por exemplo a casa Canha & Formigal que, só em máquinas no género da que acabo de referir a V.Ex.ª possuir três, além de seis das de pedal e do mesmo autor das nossas. É certo também que aquelas três máquinas o formato maior que fazem é o adotado no comércio, e que é para o comércio que elas estão quase sempre a trabalhar, mesmo que, para os formatos maiores como nós faremos, não tem aquela casa consumidores.
Possui a Casa do Alçado uma máquina de fazer sobrescritos feita por um artista da nossa oficina de serralharia. Esta máquina talvez por o artista não ter por onde se guiar a não ser as de pedal que possuímos, não saiu tão aperfeiçoada quanto era para desejar e ele pretendia fazer; não é muito perfeita no trabalho e a produção por tal motivo é muito variável e inferior, levando ainda bastante tempo a acertar qualquer formato que nela se pretenda fazer. É no entanto incontestável que esta máquina tem da parte do seu inventor muito trabalho, principalmente de cálculo e ouve indubitavelmente muito boa vontade de fazer uma máquina a desempenhar perfeitamente o serviço a que era destinada.
Por motivo da intervenção na Casa do Alçado de todos estes serviços cujo desempenho acabo de expor a V. Ex.ª foi prometida pela Direção da Imprensa uma gratificação de $40 e $80 respetivamente ao chefe e seu ajudante e só alguns anos depois, isto é, quando em 1910 foi montada a oficina de brochura e encadernação e recolhidos à Imprensa estes trabalhos que então eram feitos fora sob a responsabilidade do pessoal do Alçado, é que aquelas gratificações começaram a ser abonadas pela oficina de brochura e encadernação que funcionava sob a direção do chefe do Alçado havendo um encarregado para a divisão dos trabalhos. Quase dois anos depois foi dada autonomia àquela oficina e as duas verbas que eram abonadas pela sua folha passaram a sê-lo pela Casa do Alçado.
Para este facto peço muito respeitosamente a atenção de V. Ex.ª para que, não podendo ser equiparados os funcionários de idêntica categoria, mas de outras secções, os vencimentos do chefe e subchefe ou ajudante da Casa do Alçado lhes sejam orçamentadas as referidas gratificações que percebem, ou antes, que sejam adicionadas aos seus vencimentos que segundo a tabela são de 1$30 e 1$00 cuja exiguidade V.Ex.ª reconhecerá se se atender a complexidade de serviços que esta secção desempenha a par de tão grande responsabilidade. Em serviço, só na Oficina de Impressão lhe excederá. E não me referi ainda à enorme quantidade de expediente que durante todo o dia é enviado pela secretaria, Inspeção e pelas diferentes oficinas para seguir o seu destino.
Evidentemente todos os serviços têm aumentado consideravelmente e todavia os vencimentos do pessoal são os mesmos que eram há mais de vinte anos desde o mais modesto dos empregados até ao mais graduado, esperando do alto critério e caráter justiceiro de V. Ex.ª que não ficarão sem reparo tais vencimentos que a carestia de vida tornou mais exíguos ainda.
E a propósito, devo dizer a V. Ex.ª que, desde que os trabalhos de brochura passaram a ser feitos dentro da Imprensa em oficina própria foi o pessoal dos quadros dos alçadores e bem assim o chefe, ajudante e escrevente, prejudicados, por quanto eram estes empregados que sob sua responsabilidade faziam o trabalho de brochura ou se encarregavam também sob sua responsabilidade, da sua manufatura, e pelo qual percebiam desde longa data, a título de compensações, uma média de 6$00 mensais.
Pelas oficinas de impressão, litografia e brochura e encadernação mas principalmente pela primeira, é enviado diariamente grande quantidade de serviço que é com a maior rapidez arranjado convenientemente para seguir o seu destino, apartando para a oficina própria o que é para brochar ou encadernar e procedendo para com os restantes trabalhos conforme as indicações nas respetivas guias onde é mencionado o seu custo.
A casa do Alçado tem condições razoáveis de grandeza para o desempenhar, mas o pessoal luta algumas vezes em pleno dia com falta de luz, não falando ainda nas condições higiénicas que deixam um pouco a desejar.
Terminando o meu modesto Relatório tenho a subida honra de propor a V. Ex.ª o que se me afigura necessário adquirir para o desenvolvimento da Casa do Alçado e o bom nome do primeiro estabelecimento gráfico do País sob a direção superior de V. Ex.ª.
Aproveito o ensejo para propor igualmente a V. Ex.ª uns pequenos aumentos nos vencimentos do pessoal desta secção.»