Ficha
«Se há indivíduos de comprovada cultura artística capazes de identificar conscientemente os méritos de arte expressos numa tábua de qualquer afamado pintor quinhentista e, também, de avaliar o que há de nitidamente belo na conceção duma tela dos nossos melhores contemporâneos, não quer isso dizer que se limitem a apreciar só a grande arte. Verdadeiros conhecedores das manifestações de prática artística, espíritos esclarecidos nesses assuntos e mestres soberanos da crítica sã, indivíduos de abalizada competência, admiraram interessados e detidamente a Exposição de Fotografia que um núcleo de rapazes gráficos, de vontade sadia e sob bem ordenada direção se resolveu a apresentar em público.
É que tipógrafos, impressores, litógrafos, encadernadores, revisores, fotogravadores, galvanoplastas, mecânicos, enfim todos os que laboram no livro e no jornal têm para sua honra um violino de Ingres que lhe amenize o espírito nos seus esquivos momentos fora do forçoso dever das quem ocupações de trabalha.
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Por isso, no primeiro estabelecimento gráfico do País, a Imprensa Nacional de Lisboa, a cultura artística dos seus componentes operários não é um símbolo apagado, ilusório, ou hipotético.
Há entre esse pessoal elementos vários que nas diversas manifestações da arte, ou do espírito, evidenciam com exuberância predicados culturais muito apreciáveis, lisonjeiros mesmo, e que se impõem pelo valor real em si contido à justa admiração de quem os nota e observa.
Este exórdio vem a propósito duma interessante exposição de fotografia de amadores, que no passado dia 8 se inaugurou na sede do Grupo Desportivo e Recreativo do Pessoal da Imprensa Nacional de Lisboa, situado perto do referido estabelecimento e que durante uma semana fez para aí convergir centenas de pessoas apreciadoras de arte, e muitos curiosos da bem evolucionada invenção de Daguerre e Niepce que, certamente se deram por satisfeitas pela feliz oportunidade de ver curiosos e marcantes trabalhos de fotografia.
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A propósito, elucidaremos os nossos leitores que, por circunstância casual, e que não deixa de ser interessante registar-se, a abertura desta exposição coincidiu com a do III Salon dos Operários da Imprensa francesa que, como as anteriores alcançou um verdadeiro sucesso com a apresentação de magníficos desenhos a pastel, aguarelas, óleos, e miniaturas à pena, cópias de iluminuras e fotografia colorida.
Hurrah!, pois, pelos operários gráficos que sabem dignificar a sua profissão, elevando-se no nível cultural pela prática efetiva de belas extenirizações [sic] da arte.»