Ficha
«O segredo do ritmo no trabalho, descoberto por Taylor, veio provar que o gesto inútil, desperdiçado, o gesto e o esforço atirados fora, inúteis, são, sempre, a maior doença das indústrias e representam, na maioria dos casos, o lucro que, assim, em perdidos passos, se esvai ignoradamente.
Entre nós, porém, o ‘taylorismo’ não tem, como na América, uma absoluta, completa razão de existência. Nós não temos as enormes fábricas de maquinaria em série nem os nossos industriais possuem esse dinamismo crescente que obriga a aproveitar todos os segundos e, consequentemente, todos os gestos e esforços dos operários.
Mas um facto é que o ‘taylorismo’ nos veio dar uma ideia geral do ritmo no trabalho e, ao mesmo tempo, ensinamentos a uns e provas a outros sob o ponto de vista de organização interna de oficinas.
Há, em Portugal, vários e fulgurantes exemplos a citar, no campo da organização industrial.
Hoje apresentaremos aos nossos leitores um desses exemplos — dos mais firmes e indiscutíveis — exemplo que presentemente representa um espelho onde — tanta e tanta indústria — se poderia mirar. Trata-se da Imprensa Nacional.
Criada por alvará de 24 de dezembro de 1768, denominava-se, então, ‘Imprensa Régia’ ou ‘Régia Oficina Tipográfica’. Foi de iniciativa de Sebastião José de Carvalho e Melo então Ministro do Reino, Conde de Oeiras e mais tarde Marquês de Pombal.
Viu esse estadista que as artes gráficas tinham uma função absolutamente primordial na vida dos povos. À invenção de Gutenberg se devia o desenvolvimento cultural das nações, pois, foi desde então que o estudo se intensificou passando a ser possível a toda a gente o que dantes era só para eleitos, para raros apenas.
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Acompanhados pelo diretor da Imprensa Nacional, o Sr. António Bebiano, que a nosso pedido nos concedeu uma visita ao modelar estabelecimento (não há o menor exagero no adjetivo que empregamos), tivemos a honra de, em sua companhia, percorrer todas as dependências, uma a uma.
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Há que notar, por toda a parte, na Imprensa Nacional, um asseio extraordinário, um asseio que está pegado às paredes, ao chão, às máquinas e até ao pessoal. Esse fenómeno é a resultante de uma disciplina modelar, disciplina que se sente em tudo mas que não é ríspida, sendo forte; e que é amável, carinhosa, apesar de firme.
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— Tenho — diz-nos o Sr. António Gomes Bebiano — um grande orgulho no meu pessoal. Cumpridor, disciplinado e respeitador. Sabe o que vale mas também sabe reconhecer os seus deveres…
— Esta central elétrica — continua explicando o ilustre diretor da Imprensa Nacional — ficará, com as obras que se estão realizando, completamente independente, perfeitamente instalada das outras oficinas…
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— No entanto, como muita gente julga, a Imprensa Nacional não faz concorrência à indústria particular. As suas oficinas só fazem livros especiais, de ciência sobretudo, para os quais as outras tipografias não têm o material necessário. Quase todos os trabalhos são para o Estado, embora nem todos os Ministérios e repartições se sirvam da Imprensa Nacional…
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De regresso ao gabinete do ilustre diretor, onde, pelas paredes, há óleos representando o Padre António Vieira, João de Barros, Camões e Marquês de Pombal (quadros vindos do antigo Colégio dos Nobres), o Sr. Gomes Bebiano disse-nos o seguinte:
— Aqui, na Imprensa Nacional, não sou mais que um continuador da obra iniciada por Luís Derouet.
E, apontando um retrato do falecido diretor:
— Foi Luís Derouet que organizou, que criou o ritmo de trabalho e de disciplina que acaba de verificar. Eu só tenho feito o possível por continuar a realização do seu pensamento…
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